Total de visualizações de página

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Bicho homem

No Rio Grande do Sul (sou de Uruguaiana), existe o "rodeio crioulo", semelhante ao de Barretos (SP), porém mais ligado às tradições gaúchas, do homem do campo etc. Quando eu era pequeno, achava tudo aquilo uma estupidez sem tamanho. No campo, na lida diária dos homens das fazendas, ainda vá... Mas não entendia a razão de animais (a dor e o desespero desses bichos) servir de divertimento ao público. Recebi muitas críticas (de familiares, inclusive). Alguns diziam que eu não gostava de ser gaúcho; outros, que eu era “mulherzinha”. “Bichinha é que tem essas frescuras”, bradavam. Bem, como eu era muito pequeno, ainda não entendia um monte de coisas. Sabia, no entanto, que não era nada bom ser chamado de mulherzinha. Na escola, outros iguais a mim (sensíveis e que não curtiam maus-tratos a animais) também eram perseguidos e “catalogados” como bichinhas (embora ainda nem soubéssemos o que era, de fato, ser “bichinha”). Em contrapartida, bem no fundo, eu gostava de não ser igual aos que me perseguiam, como faziam com aqueles animais do tal rodeio crioulo. Eu não queria agir (em nome de uma convenção social para o gênero masculino) feito um troglodita. Na minha visão (“torta” para muitos), animais irracionais eram aqueles peões desalmados, cavalgando e perseguindo bichos acuados e indefesos. Cresci. Continuo pensando como pensava naquela época. A diferença é que o medo de antes se transformou em força para lutar contra “certos machos” que, para se sentirem “mais machos”, chafurdam na barbárie. E pior: são ovacionados por isso. Não tenho nada contra as tradições, mas acredito que tudo tem que evoluir. 
Aprender a respeitar os animais, a natureza etc. certamente é o maior desafio humano para poder se libertar de todo tipo de ignorância.

Nenhum comentário:

Postar um comentário