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terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sobre a polêmica: CÂNCER X SUS

Parece fábula, mas esta história é real...

Minha mãe, com histórico familiar (na minha família, os que não morrem de câncer, morrem de tédio ou dão um jeito de se atirar de alguma ponte) e sendo fumante compulsiva, desenvolveu um tumor na região do céu da boca. No início, por não confiar no SUS e sem saber do que se tratava, gastou suas economias com médicos e tratamentos particulares. Por quatro anos, o diagnóstico foi de “sinusite”. Numa tentativa desesperada, recorreu a um dentista. E foi esse profissional que suspeitou/descobriu que a tal “sinusite” era “um câncer já quase do tamanho de um limão”. A partir daí, foi aquela correria. Feita a cirurgia (com margens livres) e realizada a biópsia, saiu o resultado: carcinoma em alto grau (ou algo parecido com isso, não sou médico). Até que se recuperasse da cirurgia, resolvemos não lhe dizer nada. Mas depois de ter retirado a sonda e os pontos, ela me telefonou:

— Era câncer, né, filho?
— Quer que eu minta?
— Não.
— Sim, era câncer. E dos piores.
— Vou morrer, não vou?
— Disseram que sim.
— E agora?
— Agora, é encarar ou, aproveitando esse buraco aberto no céu da boca, dar um tiro bem dado nos miolos.
— Credo, que horror dizer isso pra sua mãe!
— Bom, então vai ter que encarar.

E ela encarou. Sem mais dinheiro para seguir os tratamentos por conta própria, fez radioterapia etc., no Sistema Único de Saúde, em Uruguaiana (RS).

Moral da história: Tem mais de 10 anos que isso tudo aconteceu. E ela está viva. Não sente nem dor de cabeça. Será que teve sorte com o tratamento do SUS? É, pode ser que sim. Agora, certeza mesmo, foi de que gastou um bom dinheiro com médicos e exames particulares durante anos, à toa.    

2 comentários:

  1. Sei de outros casos de tratamento realizado com sucesso pelo SUS. Um cliente meu, ainda em tratamento pelo SUS, disse-me que é uma questão de ter informação sobre seus direitos para se ter acesso ao tratamento disponível.Mas, caímos no mesmo ponto. Quem tem o privilégio da informação, tem o melhor acesso ao tratamento? Marcia Stecca

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  2. Sim, Márcia. Acabei de colaborar com um belo trabalho de doutorado sobre a falta/os problemas de comunicação entre pacientes e médicos. O modelo biomédico (no qual o médico vê apenas a doença... e "ignora" o paciente) já está sendo discutido pelos profissionais da saúde. Cabe também aos profissionais da área médica ajudarem as políticas públicas de saúde a encontrar a melhor maneira de informar a população sobre os recursos disponíveis (independente da classe social etc.). Afinal, todos somos "leigos" em maior ou menor grau nessas questões, não? Ainda mais quando se trata de uma doença como o câncer, cheia de estigmas. Às vezes, nem queremos perguntar... temendo a resposta. Portanto, primeiro é preciso superar nossas próprias amarras. E creio que este é um momento muito importante para encontrar soluções, não apenas apontar "culpados".

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