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sábado, 10 de novembro de 2012

Medo de espelhos




Que sou um ser bastante desatento, já é sabido. Não tenho coragem de guiar carros, porque, andando a pé, consigo atropelar até mesmo orelhões. Imaginem um automóvel em minhas mãos! Pois é... Senta, que lá vem história!

Um dia desses, andando pelas ruas desertas do Morumbi (ou Murosbi, pois só há muros aqui, neste bairro metido a besta), percebi que as pessoas me olhavam mais do que de costume. Pior: olhavam e sorriam discretamente solidárias. Ao entrar no supermercado Pão de Açúcar, novos e cada vez mais insistentes olhares. E eu, que nem gosto de ter espelho em casa para não me assustar com minha cara e meu corpo cada vez mais derretidos pelo tempo, comecei a me sentir cortejado. Puxa, será que ainda sou capaz de seduzir?

De repente, um olhar mais demorado. Desviei, claro. É sempre bom bancar o difícil. Mas, de pois de certa idade, é melhor não exagerar. Não exagerei. Ao olhar de volta, fui logo correspondido. Outra vez. E mais outra. “Estou arrasando!”, pensei. Até que o fulano, que facilmente colocaria qualquer galã de Hollywood no chinelo, veio e indagou baixinho:

— Posso lhe dizer uma coisa?

Eu, sem pestanejar: — Claro!

Ele, encabulado: — Sua camiseta, ela tá do avesso...

Pois é. Voltei correndo para casa e terminei de quebrar o último espelho.

Como costumo dizer: se há vantagem em ficar velho... é saber que a gente está mais perto do fim. O resto é romance, história para vender livro. E disso, além da minha própria decrepitude, eu entendo bem. 

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Vida nova, outros planos


Em 1985, quando saí de Uruguaiana, ainda adolescente, para estudar e trabalhar em Sampa, disseram que eu só podia ter enlouquecido:

— Ir pra tão longe, pra quê? Todos os teus amigos foram para Porto Alegre, tens parentes lá! É mais fácil!

Já vivendo em São Paulo, ao pedir demissão de um emprego de divulgador de livros em uma grande editora para escrever roteiros de cinema na Boca do Lixo, mais protestos:

— Isso é uma loucura!  

Veio a Era Collor, e quase todos do cinema ficaram sem emprego. Por caridade, um tio me arranjou uma vaga no setor de faturamento de sua metalúrgica. E lá fui eu, de volta pro Sul, faturar pilhas de notas fiscais.

— Coitado, ele deve ter enlouquecido mesmo — diziam pelos cantos.

Mais adiante, no início da década de 1990, ganhei uma bolsa e fui estudar na Argentina:

— Você ficou louco?

Passado um tempo, recebi um convite e fui morar e trabalhar no Rio de Janeiro:

— Se você gosta tanto de São Paulo, morar no Rio pra quê? Ficou louco?

Pois quando consegui voltar a São Paulo, trabalhando na área de Comércio Exterior, bom salário, garantias e tudo mais:

— Você não queria escrever? Trabalhar em uma multinacional, ficou maluco?

Daí, quando larguei tudo e fui, finalmente, escrever (nome da editora: Desatino):

— Você tá louco se acha que vai viver disso!

E agora que, como autor, vou chegando ao fim da minha meta (escrever/publicar sete livros do Greco) e digo:

— Bem, meus caros, cumpri o prometido; é hora de partir para outra empreitada.

Em coro, rebatem:

— Deus do céu! Você só pode estar louco! E vai fazer o que com essa idade?

Penso (mas não muito, óbvio) e respondo:

— Talvez, como todo mundo, tentar ser feliz. Felicidade é coisa que vai mudando, conforme a gente muda.

Sim, acho que todos têm razão: sempre fui louco; não creio na eternidade das coisas, também não tenho medo da vida, menos ainda dos meus desejos (por mais transitórios que pareçam). Faço o que quero e sigo aquilo que me dá na telha. Porém, não deixo nada por fazer. Se sinto alguma vontade, logo sacio. Se começo, termino, vou até o fim. Custe o que custar. 

Obs.: vejam, pensei nisto agora... Quem sabe eu ainda não arranje filhos mais doidos que eu, uma mulher bem apaixonada, carola e faladeira, papagaio (cachorro danado já tenho), rugas de tédio, um pinto murcho e uma barriga enorme de chope... Mas acho que ainda assim alguns vão dizer: "Pois é, agora ele enlouqueceu de vez!" Ou seja: pra gente como eu, não há escapatória; nada estará de acordo com as expectativas.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Sagrada família e homofobia


Urbanidades, cena 1:
Numa noite dessas (quase madrugada), uma mulher, moradora do prédio ao lado, vinte e poucos anos, gritou desesperada: “Socorro! Ele vai me matar! Chamem a polícia! Estou sendo mantida em cárcere privado!” Em instantes, cabeças foram surgindo nas janelas vizinhas. Várias ligações sem sucesso para o número 190... Mas, “ato seguinte”, a mulher já estava na rua, agora gritando obscenidades para o suposto agressor, gesticulando e fazendo ameaças. Na sequência, retornou com a polícia, que entrou no prédio e saiu conduzindo o “carrasco”. No entanto, vejam só, foi o “facínora” que entrou no camburão, levando uma criança no colo, ainda de pijama e bastante assustada. A suposta “vítima” seguiu em outra viatura, ainda dizendo palavrões, muito nervosa, visivelmente fora de si. TPM? Bem, agora tudo é TPM.

A noite estava fria. A criança, agarrada com força ao pescoço do pai, tremia e chorava de medo. Certamente, seriam conduzidos até a delegacia mais próxima para prestar esclarecimentos sobre o ocorrido etc. 

De volta ao silêncio, fiquei confabulando comigo mesmo sobre o que, de fato, teria acontecido com aquela família? O que levaria uma mãe a pedir socorro e, após ser “liberada”, destilar todo seu ódio a plenos pulmões – mais intrigante ainda: sozinha, deixando o filho pequeno nas mãos do marido-monstro? De volta ao local onde alegara estar em cárcere privado, por que ela não foi logo “salvar” a criança das “garras do bandido”? Por que a criança não pulou logo nos braços da suposta mãe-vítima, preferiu o calor e o abraço do suposto pai-torturador? Com certeza, especulações que não teriam respostas. Dificilmente há respostas e/ou explicações, no mínimo, razoáveis para esse tipo de violência familiar contra crianças indefesas. Apenas marcas profundas, feridas que não cicatrizam.

Acontecimentos desse tipo, que envolvem brigas violentas de casais na frente dos filhos, ao me remeterem a questões antigas, atiçam meus fantasmas, assombrações que de vez em quando ressurgem dos meus porões para me atormentar. Um adulto pode discutir e até se engalfinhar com outro, mas jamais diante de crianças! Repito: jamais!

Ainda naquela noite, em associação nem tão livre assim, outra dúvida continuou a me intrigar: quando religiosos e moralistas de plantão lançam sua fúria contra o que chamam de “ditadura gay” (que nada mais é do que querer estender direitos de cidadania a essa parcela da população brasileira), será que também é para defender esse tipo de “sagrada família”? Esse é o modelo de família que deve ser protegido pela fé e pelo Estado? E vou mais fundo: ora, são os homossexuais (refiro-me aos assumidos, evidentemente) que abandonam mulheres e filhos? São eles/elas que, por acaso, ajudam a lotar os orfanatos e as latas de lixo com suas proles rejeitadas? São eles/elas que batem, humilham, exploram e violam crianças indefesas? Hoje, a impressão que se tem é a de que famílias heterossexuais que vivem em harmonia são a exceção, não a regra. Creio que aqui, então, vale a máxima: “É melhor olhar para o próprio rabo antes de apontar/condenar o próximo”. Mas, infelizmente, não é o que acontece. Pelo contrário. 

Mudando e ficando no mesmo: 
Semanas atrás, por coincidência, eu havia acompanhado pela tevê o discurso de um político da chamada bancada evangélica, no qual ele insistia que aprovar o PLC 122 (que criminaliza a homofobia; ver mais em: http://www.plc122.com.br) e reconhecer a tão temida parceria civil entre pessoas do mesmo sexo é um risco, “como está escrito na Bíblia”, para a sociedade de pessoas “sadias e normais”. E foi mais além: “seria transformar a pedofilia em algo normal, também a zoofilia, a necrofilia”, concluiu. Fiquei perplexo, não com a já esperada “santa ignorância” do tal parlamentar que, suponho, considera-se “sadio, normal e feito à imagem e semelhança de Deus”, mas com o desrespeito aos seus antepassados. Perseguições, lutas, chicotadas, torturas, mutilações, tanto sangue derramado para que um homem como ele, de descendência africana, pudesse hoje estar ali, eleito democraticamente, diante de uma maioria branca, discursando de modo livre... Será que toda essa ancestralidade guerreira não tinha lhe servido para nada? Além do fanatismo e da imbecilidade, pensei, quanta ingratidão desse ser que, pasmem, se considera um “homem de Deus”!

Um aparte: Sim, sou "intolerante" com a (palavra) "tolerância"!
Infelizmente, parece que a cegueira/arrogância não é apenas desse cidadão, mas geral (minha também). Nossa tão alardeada tolerância nos condena. Afinal, ser “tolerante” nada mais é do que reconhecer a inferioridade do outro. Ou seja: só consegue ser tolerante aquele que, por se considerar superior, é capaz de entender a inferioridade e as limitações do outro. Desconfio dela, e não gosto mesmo desta palavra: “tolerância”! É esnobe, equivocada, hipócrita.

Reflexão final: Disfarçada de pós-moderna e, por isso mesmo, evoluída, a sociedade seleciona e vai estocando seus futuros culpados. Com já escreveu João Silvério Trevisan no livro Devassos no paraíso: “A verdade é que a civilização sempre precisou de reservatórios negativos que possam funcionar como bodes expiatórios nos momentos de crise e mal-estar, quando então, por um mecanismo de projeção, ela ataca esses bolsões tacitamente tolerados.” 

Apenas para lembrar: nesses reservatórios "negativos" já estiveram (ainda estão?) putas, feministas, lésbicas, mulheres em geral, bichas,travestis, transexuais, povos indígenas, judeus, negros, nordestinos, macumbeiros, muçulmanos, espíritas, os próprios protestantes etc.    

Mais não digo. 
Apenas penso. 
E, claro, entristeço.

sábado, 23 de junho de 2012

Outros olhos




   Pouco antes da virada do século passado, viajei para a Europa, mais especificamente Espanha, França e Inglaterra. No restaurante do hotel de Madri, deparei com uma conterrânea, professora de francês aposentada, que, na companhia de sua amiga inseparável, tentava fazer as pazes consigo mesma para, depois, quiçá poder resgatar a alegria perdida após o trauma inicial de um diagnóstico de melanoma (com metástases).

— Sabe, Felipe — ela me disse, depois de um longo e prazeroso gole de vinho tinto —, um dia, a gente dorme com cabeça de moça, corpo de moça, tudo de moça... mas, na manhã seguinte, acorda com cinquenta, cem anos. Numa única noite, a velhice vem, toma conta de tudo. E é aí que, de mãos dadas com ela, vem a saudade, vem a angústia, vem essa vontade imensa de ter feito muita coisa de outra forma. A realidade se impõe soberana sobre as nossas crenças pessoais, entende? A verdade é que a gente perde muito tempo acreditando em coisas que, no fundo, não servem pra nada. Acredita por imposição, porque os outros nos enfiam goela abaixo uma fé que, de fato, não nos diz coisa alguma. E qual é, afinal, a sua fé verdadeira? Hein, Felipe? 

Não respondi. Não sabia o que dizer. 

A minha... — ela prosseguiu. Bem, a minha é beber agora, bem devagar, essa taça de vinho. O resto já não tem a menor importância.

Estendeu a taça. Brindamos. Horas mais tarde, nos separamos. Ela iria para Holanda, Itália e Portugal, não necessariamente nesta ordem. Eu seguiria em outra direção. Diferente da minha, a dela era uma viagem a um só tempo de encontro e de despedida; disposta a não aderir aos tratamentos do câncer, ela simplesmente deixaria a morte trabalhar em seu corpo, sossegada.

Eu, na época com 33 anos, ainda não tinha como entender a fundo o que ela havia tentado me dizer. Porém, jamais esqueci; nunca me esqueço de acontecimentos que de algum modo mexem comigo... me retiram da minha zona de segurança.

Hoje, um dia antes de completar 45 anos, acordei com essa lembrança revigorada... Não, não me empolguei muito com a Europa, dormi pesado nos hotéis a maior parte da viagem. Os museus e as velhas construções, depois de um tempo, me entediaram – aliás, depois de algum tempo, quase tudo me entedia. Aquelas férias valeram mesmo pelos encontros maravilhosos que tive (principalmente, comigo mesmo, embora ainda não soubesse disso). Alguns acontecimentos na vida da gente são como sementes microscópicas plantadas para germinar e crescer na hora certa, florescer quando a beleza, a magnífica coloração e o extraordinário perfume de suas flores possam ser realmente apreciados. É o que pode estar acontecendo comigo agora... Será? Tomara!    

Tim-tim! Feliz aniversário pra mim!

domingo, 29 de abril de 2012

Tempo, tempo, tempo, tempo...*


Lembro que um dia, sempre muito sarcástico, meu pai me disse que, quando jovem, também não gostava de ir a cemitérios. Estava, na verdade, rebatendo um comentário que eu havia feito sobre a inutilidade de homenagear mortos, levar flores...

— Pra que perder tempo, se não existe mais nada ali? — completei.

E não há mesmo, ele concordou, acrescentando que, de fato, isso era muito besta, mania de velho ir visitar túmulos, retratos, ossos secos empilhados, enfim, um passado que não existia mais. Pensava dessa forma. Era jovem. E quando se é jovem, tempo é coisa que não passa nunca. Morrer, sentir saudades... Ah, coisa de gente velha, saudosismo inútil! O que importa é a vida! E finalizou, referindo-se ao tempo: 

— Acontece que, muito paciente, ele te aguarda lá na outra ponta. Quando a gente acorda, tudo já se foi. Daí, ficam essas lembranças enfileiradas nos corredores de pedra e cimento, esse vazio dentro e fora, essa vontade de voltar lá atrás, fazer tudo de novo, mas sem toda aquela urgência idiota de quando se é novo demais, entende, filho?

Talvez com outras palavras, foi isso que ele tentou me dizer. Talvez com outras palavras, foi isso que, ainda muito jovem e arrogante, pude entender daquilo que meu velho quis me fazer enxergar antes do meu tempo de ver as coisas do mesmo modo que ele via. Hoje, talvez com outras palavras, percebo que entendo cada vez mais o que meu pai (vejam a ironia: aposentado como relojoeiro, profissão que se perdeu justo no tempo) me ensinou sobre a velocidade das horas, o egoísmo e a presunção. Será que envelhecer é isso: ir se aproximando dessa outra ponta para, aí sim, começar a entender o real significado da saudade? Não, nem é preciso responder; estou velho, sentindo essa vontade louca de começar a visitar os meus mortos.

*Para Elcy Tavares e Rogério Tavares. 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Vão e aproveitem... mas não me chamem!

Não que eu abomine carnaval – nem poderia; tenho amigos e conhecidos que trabalham como carnavalescos, figurinistas, compositores, cantores etc. –, porém prefiro (cada vez mais) o silêncio, a tranquilidade e, principalmente, ficar sozinho no meu canto.

Eremita convicto, nem de música (em geral) eu gosto. E quando curto alguma canção, ouço baixinho e só.

Por isso, fico constrangido sempre que me convidam para ir a lugares com música ao vivo ou tocada em um volume acima do socialmente tolerável. Aliás, melhor que nem tenha conversa em voz alta ao redor – algo, aliás, que brasileiro adora fazer em locais públicos, ou seja, comer, beber e conversar aos berros! É quase nossa marca registrada.

Ora, se alguém me chama para conversar e me leva a um bar ou restaurante barulhento é sinal de que, na verdade, queria ouvir qualquer coisa, menos o que eu teria para lhe dizer. Sinto o mesmo quando, ao visitar alguém (coisa rara!), deparo com a televisão ligada na sala de estar. Se meu anfitrião deixou o aparelho ligado ou o ligou depois que cheguei, isso significa que minha presença não é bem-vinda naquele momento. Tudo bem, improviso uma desculpa qualquer, dou meia-volta e desapareço. É um direito de cada pessoa querer ou não receber visitas. Ainda mais a minha, que (tenho plena consciência disso!) não deve ser a coisa mais empolgante/excitante do mundo.
Mas que aproveitem bem os que curtem o reinado de Momo!

Não por acaso, moro em Sampa... Aqui, a folia "passa bem longe", literalmente.  

domingo, 22 de janeiro de 2012

O golpe das sacolas plásticas!

Supermercadistas se reúnem e decidem acabar com a distribuição de sacolas plásticas. Por enquanto não é lei, apenas acordo entre varejistas. A partir de agora, para sair com suas compras dentro de sacolas "ecologicamente corretas", é preciso desembolsar cerca de R$ 0,20 por unidade. 

Sim, concordo que devemos mudar de hábitos, evoluir, pensar mais nas consequências ao meio ambiente etc. Entretanto, além de não haver redução nos preços dos produtos (que já rateavam o custo das antigas sacolinhas nas mercadorias; portanto, elas nunca foram entregues “de graça” ao consumidor), os supermercados ainda vão lucrar com as vendas de ecobags (nome “chique” dado pelos americanomaníacos emergentes às antigas sacolas de feira) e sacos biodegradáveis. Ou seja: como sempre, tais decisões, longe de beneficiar a natureza ou o que for, visam somente o aumento do lucro. 

Ora, como qualquer outro comércio, a obrigação de embalar a mercadoria é de quem vende, não do comprador (ainda que não seja por lei, é, no mínimo, um gesto cordial). Ou você sairá das lojas com o vestido, camiseta, sapato, qualquer outra compra enfiada na bolsa ou na mochila? Será que as madames levarão "sacolas de feira" para carregar suas aquisições no Iguatemi, Oscar Freire, Daslu etc.? Confesso que adoraria ver, mas...
 
Tudo bem, as sacolas das lojas costumam ser de papel. Ora, e as árvores? As florestas? O desmatamento? Outro detalhe técnico: a maioria recebe revestimento plástico para proteger a tinta e/ou dar maior resistência ao papel/cartão.

Curiosidade: carne, legumes, frutas... Será que agora vão nos entregar em jornais, como era antigamente? E em casa, para recolher o lixo, não teremos que comprar outros sacos para substituir as sacolas plásticas, que, insisto, continuaremos pagando (o custo continuará no rateio dos produtos), mas não poderemos mais levar? Ou voltaremos a usar as velhas latas de lixo? Não seria má ideia, porém teríamos que comprar toneladas de latas para substituir as que seriam “subtraídas” para a reciclagem...   

É claro que não sou contra o fim das sacolas plásticas, mas me revolto com esse corporativismo disfarçado de "ação ecologicamente correta". Já não compro há muitos anos no Pão de Açúcar (por não suportar o atendimento arrogante de seus funcionários), nem no Carrefour (que, inexplicavelmente, “dá sumiço” nos créditos da Nota Fiscal Paulista). Agora, apenas comprarei em supermercados que forneçam sacolas biodegradáveis “de graça”. Ou ofereçam desconto no total da compra se eu levar minha própria sacola de feira.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Rio: "Mulheres sonharam cavalos"

Já comentei que por muito tempo fugi de espetáculos teatrais por achar tudo muito convencional, previsível e até mesmo desnecessário. Havia muito exagero, atores que faziam caras e bocas, grasnavam feito gralhas loucas em cena. Eram tudo, exceto "personagens". No cinema nacional tbém é comum ver direções/atuações desse tipo (bem diferente, por exemplo, das atuais produções hispânicas -- até mesmo portuguesas). Tvz essa nossa tendência ao "over" venha lá de trás; a Companhia Cinematográfica Vera Cruz trouxe muitos diretores e técnicos da antiga Cinecittà, com técnicas de dublagem em vez de som direto, certos exageros/vícios típicos dos artistas italianos... porém que ficam muito bem "neles" (apenas "neles"!). É provável que tenhamos absorvido esse modo afetado de encenar/filmar dos italianos. Tbém tem o teatro de revista, as vedetes, as chanchadas etc. Não, não sou pesquisador do assunto. Sei é que não gosto desse tipo de produto/obra. Assim como tbém não consigo me empolgar com a maiorida das produções hollywoodianas. De musicais, então, corro (cinema e/ou teatro).
No entanto, em 2011 voltei a me animar com algumas montagens teatrais: "Silêncio depois da chuva", de Gustavo Colombini, direção de Leonardo Moreira; "O melhor do homem", de Carlota Zimmerman, direção de Djalma Thurler...
E, mesmo à distância, tenho acompanhado os trabalhos (e a pesquisa cênica) de Ivan Sugahara. Ou melhor: a inquietação deste Artista. Curto arte que, como diria o Caio Fernando Abreu, "desrevela". Não sou de ficar contemplando nada. Sou "das cutucadas"... dadas e recebidas. No mais, me entedio. Prefiro uma boa dose de vodca pura. Deixo então a seguinte dica para quem estiver no Rio: MULHERES SONHARAM CAVALOS, com temporada prorrogada no Teatro Poeirinha, de 06/jan até 26/fev. Segue uma das críticas... (Clique na imagem para ampliar!)

domingo, 1 de janeiro de 2012

Casa vazia


De uns tempos pra cá, tenho sonhado o mesmo sonho toda noite. Passado que revisito em cenas reinventadas. E tudo acontece dentro de uma casa antiga, grande, com muitos cômodos, mas vazia. Algumas figuras conhecidas vagam na penumbra. De vez em quando, o silêncio é rompido por um desabafo, um gemido, um grito. Da janela, dá para ver o céu carregado de nuvens incandescentes. Rápidos e multicoloridos relâmpagos serpenteiam por cima e ao redor dos edifícios... e logo voltam a se esconder na escuridão.
    — Vai acabar hoje — alguém diz debruçado na janela.
    — Hoje, o quê? — pergunto.
    — Vai acabar, não vê? — outra voz rebate, quase gritando.
    Insisto: — O mundo, o mundo é que vai acabar?
    Salta do fundo da sala numa voz rasgada, baforadas de cigarro riscando silhueta de ondas no ar: — Esta história.
    — Qual história? — quero saber.
    Mas a resposta não vem. Alguns vultos se calam. Outros desaparecem. Tento acordar. Com muito esforço, consigo abrir os olhos. Porém, dentro de outro sonho, vejo minha cama, meu corpo no escuro de um quarto que não é o meu. Então fico lá no alto, como se flutuasse, vigiando meu sono. Angustiado, gesticulo. Sei que é sonho; quero despertar. O corpo não reage. Estou aprisionado nesse pesadelo. E quando faço força para me desvencilhar dele, acabo caindo em outro ainda mais esquisito e assustador. Alguns sonhos são verdadeiros pântanos que nos engolem vivos. É mais ou menos como visitar a nossa própria morte. Ensaio forçado. Um mergulho na solidão que nos trouxe e nos levará de volta ao vazio.