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domingo, 1 de janeiro de 2012

Casa vazia


De uns tempos pra cá, tenho sonhado o mesmo sonho toda noite. Passado que revisito em cenas reinventadas. E tudo acontece dentro de uma casa antiga, grande, com muitos cômodos, mas vazia. Algumas figuras conhecidas vagam na penumbra. De vez em quando, o silêncio é rompido por um desabafo, um gemido, um grito. Da janela, dá para ver o céu carregado de nuvens incandescentes. Rápidos e multicoloridos relâmpagos serpenteiam por cima e ao redor dos edifícios... e logo voltam a se esconder na escuridão.
    — Vai acabar hoje — alguém diz debruçado na janela.
    — Hoje, o quê? — pergunto.
    — Vai acabar, não vê? — outra voz rebate, quase gritando.
    Insisto: — O mundo, o mundo é que vai acabar?
    Salta do fundo da sala numa voz rasgada, baforadas de cigarro riscando silhueta de ondas no ar: — Esta história.
    — Qual história? — quero saber.
    Mas a resposta não vem. Alguns vultos se calam. Outros desaparecem. Tento acordar. Com muito esforço, consigo abrir os olhos. Porém, dentro de outro sonho, vejo minha cama, meu corpo no escuro de um quarto que não é o meu. Então fico lá no alto, como se flutuasse, vigiando meu sono. Angustiado, gesticulo. Sei que é sonho; quero despertar. O corpo não reage. Estou aprisionado nesse pesadelo. E quando faço força para me desvencilhar dele, acabo caindo em outro ainda mais esquisito e assustador. Alguns sonhos são verdadeiros pântanos que nos engolem vivos. É mais ou menos como visitar a nossa própria morte. Ensaio forçado. Um mergulho na solidão que nos trouxe e nos levará de volta ao vazio.

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