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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Mais do mesmo (parte 1)



Noite que deveria ser de festa para os apaixonados por futebol: Corinthians foi campeão lá... do outro lado do mundo. Mas, de repente, em uma rua de mão dupla, que se torna cada vez mais estreita à medida que motoristas estacionam seus carros de qualquer jeito e em ambos os lados, um morador dá seta para entrar no portão do condomínio. Outro motorista, vestido com o uniforme do time vencedor, vem em direção contrária e bloqueia a passagem do tal morador.

— Dá ré aí, cara! Quero passar, porra!

— Eu estava primeiro, moro aqui, dei seta — argumenta o morador, família inteira no carro, crianças pequenas olhando assombradas.

Dali em diante, gritos, ameaças... até que aparece um policial, arma em punho.

— O que tá pegando aqui? — “Pegando”, exatamente o que ele disse.

Explicações de um e de outro, sendo que o “torcedor” parecia um pouco mais alterado que os demais. Daí, a coisa se complicou: o policial pediu para que o rapaz saísse do carro com as mãos para o alto, encostasse no muro...

— Cala a boca, arrombado! Encosta ali, seu filho da puta! E não me encara! Tá querendo me peitar, tá? Tá querendo meter banca pra cima da lei?

Nisso, já havia se formado um congestionamento na estreita rua Pasquale Gallupi, a um quarteirão da Giovanni Gronchi, principal avenida da região do Morumbi.

Não deu para ouvir direito, mas algo dito pelo corintiano desagradou mais ainda o policial, que começou a dar tabefes no rosto do rapaz, vários.

— Não olha na minha cara, seu bosta! Já disse, olha pro chão!

Alguns moradores, indignados com a cena, começaram a protestar.

— O senhor não pode fazer isso!

— O homem tá quieto!

A resposta do policial: — Vão se foder!

Outra viatura apareceu. Outro fardado, creio que de patente superior, passou a conduzir a “abordagem” ao “torcedor desbocado”. Com a presença desse segundo policial, o primeiro levou as mãos para trás e se portou como o mais equilibrado e obediente de todos os PMs.

Aos poucos, a rua foi sendo liberada. 
O interrogatório, porém, se arrastaria por mais alguns minutos. E, assim, a noite seguiu seu curso... Janelas se fecharam. Era melhor ver a novela das nove, que mostra o amor entre uma favelada e um agente da Polícia Pacificadora carioca. Melhor ainda com Roberto Carlos cantando ao fundo:

O cara que pega você pelo braço
Esbarra em quem for que interrompa seus passos
Está do seu lado pro que der e vier
O herói esperado por toda mulher


Por você ele encara o perigo
Seu melhor amigo
Esse cara sou eu

Com todo respeito, Glória Perez, mas seu folhetim devia se chamar:
"SALVE-NOS, JORGE!"