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quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Tudo por uma boa causa


Quanta alma boa e generosa na internet, não?

Diariamente, recebo um monte de e-mails com links e anexos com depósitos bancários, depósitos em juízo, doações de fortunas, heranças, compras aprovadas, estornos de valores, escrituras de imóveis de altíssimo padrão e até de jazigos em cemitérios de luxo... Se continuar assim, qualquer dia estarei no topo da lista dos suspeitos na Operação Lava Jato. 

Affff! 

Esse povo que manda vírus não tem nada melhor pra fazer, não?

Bem... Me disseram que são os tais sites pornôs que costumam fazer isso com quem vai lá, de vez em quando, dar uma espiada... O sujeito espia daqui e, ao mesmo tempo, é espiado de lá.

Mas juro que não faço isso! Juro! 

Rezo dia e noite!!!!! Sei a Bíblia de cor... e de trás pra frente!

Sou um ser elevado! Analisado! Evoluído! Portanto, já imune a essas coisas impuras da carne! Só não digo que sou santo, porque sou muito, muito humilde! Mas sou, sim! Santíssimo! Até milagre já fiz! Um monte!

Ora, onde já se viu? Agora vou ter que esconder câmeras para ver quem é esse degenerado que anda usando indevidamente o meu micro particular para ver safadeza alheia. 

Quanto atrevimento!

É o fim dos tempos, mesmo!

O APOCALIPSE!

Tá, tá bom... Acesso às vezes. Bem pouco, mas tenho que fazer isso. Rezo pelos pobres pecadores e pecadoras... para ver se se livram daquelas impurezas. Fico lá, de joelhos diante do monitor, clamando: 


"Sai, que esse corpo não te pertence! Entra, sai, entra, sai... Devagar, capetas! Assim eu não consigo rezar direito... e a minha labirintite grita!" 

Dá uma canseira danada, mas vale a pena! É uma singela contribuição para a humanidade... Um sacrifício por uma boa causa.   

Obs. 1: Repasse esta postagem, e receberá uma graça em um segundo. Mas também pode imprimir e trocar por um ingresso para ver "Os Dez Mandamentos" no cinema mais próximo (de graça). 


Obs. 2: Viram como já tô, por via das dúvidas, preparadinho para depor na Lava Jato? Afiadíssimo!



segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Eu e o meu ninho


     
Sobre o aniversário de Sampa, tomo a liberdade de compartilhar com vocês esta história (verídica)...

Eu devia ter 18 ou 19 anos, por aí. Morava sozinho em uma quitinete na Duque de Caxias, entre o Largo do Arouche e a avenida São João. Naquela época, escrevendo para cinema, eu viajava bastante a trabalho. Depois de uma temporada mais longa, ao voltar para o meu apê, encontrei um ninho de pomba na sacada. Sim, sabia de todas as doenças que podem ser transmitidas etc. Mas como jogar aqueles ovos fora? Limpei tudo em volta, fazia isso sempre... e a pomba, ali, já acostumada comigo, chocando.

Nasceram os filhotes: três. E piavam dia e noite. Eles eram o meu despertador.

Mãe-pomba pra lá e pra cá. A fome daquele trio era insaciável. A disposição dela (cada vez mais magra), incrível.

Mais uma temporada fora, e voltei para casa. Os três já estavam grandes. E a estiva de abastecimento da mãe parecia ter piorado.

Certa madrugada, acordei com uma briga entre as aves... Abri a cortina e lá estava a mãe-pomba furiosa, distribuindo bicadas violentas nos filhotes. Uma sangueira na sacada... Peguei uma vassoura, e expulsei a malvada aos berros.

Dali em diante, um olho na máquina de escrever (ainda não havia computadores como hoje) e outro na sacada, passei a monitorar as visitas indesejadas da mãe desnaturada, que já não trazia tanta comida como antes... Com pena dos filhotes, passei a dar água e migalhas de pão a eles... Se não fizesse isso, iriam morrer à míngua. Pelo menos, era o que eu pensava.

Mas bastava eu me descuidar, que ela avançava neles. Para se protegerem dos ataques, os coitados se enfiavam nos cantos, se encolhiam, piavam... batiam e batiam suas asas.

E eu na vigília, vassoura em punho, me desdobrando para afugentar a pomba-megera.

Água limpa, migalhas de pão... eu e o meu ninho.

A pomba-mãe não desistia. Deu tanta bicada nos filhotes que eles, finalmente, tomaram coragem, escancararam bem as asas e saltaram lá do alto (cinco andares). Pronto: a missão dela estava cumprida... os filhotes ganharam o mundo. Inseguros e desajeitados no início, mas logo dominaram o voo. Sumiram. 

Limpei tudo ali, porque eles nunca mais retornaram.

Minto; a mãe voltava de vez em quando. Ficava comigo na sacada. Até que chegou a minha hora de partir...

Décadas depois, e ainda me lembro disso... com todos os detalhes. Mas agora vejo tudo aquilo como uma bela metáfora. São Paulo é mais ou menos assim com seus filhos (legítimos ou não): bate e logo assopra. É mãe zelosa, mas extremamente exigente. Quando dá porrada, é para que a gente aprenda a voar cada vez mais longe, confiante, destemido, livre. Não é terra para quem se acomoda no ninho. Não mesmo!

Feliz aniversário, Sampa!

Minha gratidão por tudo!!! 

Sempre!!!   


segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Sobreviventes





Ainda que algumas vezes eu não tivesse o rendimento (oficial) esperado nos boletins, de uma ou de outra maneira me destacava em algo. É um "dispositivo de compensação" que a gente vai aprendendo a devolver/retribuir/para não virar os holofotes "negativamente" para evidenciar aquilo que você sabe que não "fez direito" (na visão dos outros, claro). 

E são pesadas as cobranças (no início, externas... depois isso fica por dentro, como um sinal de alerta interior que até poderá ser controlado, mas jamais eliminado). Principalmente, aos que não correspondem às expectativas (sejam de gênero, sejam de comportamento, não importa). 

Costumo dizer que alguns põem filhos no mundo para ter uma forma de passar a limpo fracassos/frustrações, ter uma nova chance de competir e vencer a disputa (autoimposta?) não conquistada lá atrás. E isso é muito cruel! Um amor torto disfarçado de zelo, preocupação... o tal amor incondicional de pai e mãe. Um mito. Não é amor, é tirania.

Por outro lado, não correspondendo às tais expectativas (família, amigos, sociedade etc.), o sujeito pega aquela marca/estigma/tenha o nome que tiver, e retrabalha isso internamente (de modo consciente ou não)... Como a Rose Marie Muraro disse em uma entrevista nos anos 1980, "a vivência do estigma te faz viver muitos opostos, te faz viver muito desamparo e te faz viver muita coragem, porque... ou você é obrigado a ter uma coragem maior que a dos outros... ou então você não sobrevive". 

Com isso em mente (e/ou na alma), Edu, personagem de um novo trabalho, joga com o próprio destino ao longo da trama. Se vai ou não se dar bem, é o de menos... mas seguirá em frente.

De família "boa", ele não é... Mas que tem excelentes padrinhos, disso não há dúvida!

"Bora" 2016!!!!!