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quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Presente de mãe



Flor de “vó”, é o que dizem. Em casa de “vó” sempre tem uma dessas. Ou tinha. Na casa da minha avó, sim, tinha uma... e bem grande. No Natal, recebia luzes e enfeites... Na verdade, era na casa dos meus pais, que depois passou a ser da minha avó paterna, de quem peguei emprestado o sobrenome Greco: Isabel Greco Tavares. 

No Sul, chamam essa árvore de “primavera”. Mas é “manacá-de-cheiro”. E as flores exalam um perfume inconfundível. 


Aqui por perto, no bairro em que moro, felizmente, há uma dessas... Já está carregada de flores e aromas.


De vez em quando, passo por ali. Não tem como não voltar no tempo, mas não com saudosismo. Não sou saudosista. Boas lembranças, apenas isso.


Atualmente, na nova casa dos meus pais, tem outra dessas. Quando estive lá, minha mãe quis que eu trouxesse uma muda. Preparou tudo. Do jeito dela, claro, só raiz e caule (diz que é assim que a planta aguenta viagens longas)... Na última hora, desisti... Uruguaiana fica "ao lado" da Argentina, mas também do Uruguai. 


"Mãe", eu disse, "e se me pegarem no aeroporto, pensando que é muda de maconha? Vou dizer o quê: que é maconha da mãe?" 


Ela ficou me olhando... Daí, rebateu: 


"Deixa de ser medroso! Te dou umas folhinhas, também. Se te pegarem, mostra pra eles e diz que fui eu que botei a muda na tua mala. Isso aí é bobagem que inventam pra ganhar dinheiro sem pagar imposto. Cachaça, vendem em qualquer boteco e se pode levar na mala; maconha, não?"


"Tá doida, mãe?"


"Ué, tu não é artista? Se tem medo de escândalo, vai fazer outra coisa, ora!"


Minha mãe sempre foi bastante pragmática. Mas... eu, hein? Preferi ser medroso, deixei lá com ela a muda.


Tem cada mãe, viu! A minha, acho que daria um livro. Ou vários.



domingo, 11 de setembro de 2016

Novos velhos tempos




Em meados dos anos 1980, com 17 para 18 anos (naquele tempo a maioridade era aos 21, precisei ser emancipado pelos meus pais para poder estudar em São Paulo) quando fui divulgador na Editora Vozes, ajudei a trabalhar esta obra junto à imprensa: Brasil: nunca mais, com prefácio de Dom Paulo Evaristo Arns. 

A famigerada ditadura militar caminhava para o fim. 

E veio o fim (?). 


Comemoramos!


Havia esperança de voltarmos de fato à democracia. 


"Eleições diretas já", reivindicávamos nas ruas. 


E elas vieram (não completas, mas vieram). 


Então recebemos o primeiro revés da história: o presidente eleito morreu (?), Tancredo neves não chegou a assumir. No lugar dele, recebeu a faixa José Sarney (vice, era do PMDB). 


Na década seguinte, novas eleições (bastante manipuladas pelas mídias) colocaram (!) Fernando Collor no poder. O barco desse novo governo logo fez água (mais por arrogância e incapacidade de gerenciamento político do presidente que corrupção; hoje sabemos disso). Outro do PMDB ficou no lugar dele: Itamar Franco. 


Então veio Fernando Henrique, em quem, confesso, depositei esperanças; por ele ser intelectual e acadêmico reconhecido, acreditei que iria, finalmente, investir pesado em educação. Que nada, tudo continuou como estava nessa área... ou até piorou. 


Depois vieram Lula e Dilma... Até que, por uma manobra que a história (se bem contada) deverá tirar a limpo, volta a assumir o poder alguém do partido soturno e sobrevivente (?) da ditadura... Ou seja: Michel Temer, do Partido do Movimento Democrático (?) Brasileiro (PMDB, antigo MDB... quando só havia Arena, de direita, e MDB, supostamente de esquerda). 


Nas manchetes, agora parte do povo volta às ruas pedindo novas eleições. Também políticos conservadores que defendem (?) tradição, família e propriedade (TFP ressurgida das supostas cinzas) acabam envolvidos exatamente no que tanto alegam estar dispostos a combater (?): a corrupção. Nas passeatas, a polícia militar entra em confronto com os manifestantes. Bombas são jogadas. Prisões são feitas de modo aleatório (?). Agentes (?) são infiltrados. Arruaceiros, talvez idem, para justificar (?) tais represálias violentas aos movimentos. 


Emfim, vendo tudo isso, a pergunta que fica é: houve mesmo uma volta à democracia?
A(s) ditadura(s) acabou(acabaram)? 


Hoje, eu acrescentaria ao título deste importante livro sobre torturas e torturadores um "talvez". Ficaria assim: Brasil: (talvez) nunca mais.


Algo para pensarmos com muito cuidado e carinho, não?



domingo, 4 de setembro de 2016

Apenas uma opinião...



Fui ver Aquarius. O filme é quase um tributo à atriz Sônia Braga (que está mais uma vez totalmente entregue em cena e se "atreve" a desconstruir a própria imagem de "símbolo sexual", aparecendo sem maquiagem e com um dos seios mutilado pelo câncer). Ela, como eu já disse em outra postagem, "é" da lente de cinema, sem dúvida. Não filma, faz amor com a câmera e anda solta pelos cenários... com a desenvoltura de alguém que mostra a casa para os amigos. Algo que não se aprende: a pessoa tem ou não tem. Pode até ser excelente artista de teatro e/ou televisão, mas se não tem essa intimidade com a telona, dançará. 
No entanto, na minha opinião, a história não se segura. Há ótimos diálogos soltos em uma trama que não se sustenta dramaticamente. 
Assuntos (bons temas, sim, como a solidão na velhice, falta de comunicação com os filhos, a rejeição por causa das profundas cicatrizes deixadas pelo câncer de mama feminino, entre outras questões importantes e bem atuais) são jogados à plateia. Porém o "acaso" (como num passe de mágica) surge para tentar arrematar todo aquele interessante chuleio. Uma bela colcha de retalhos, mas apenas alinhavada. 
Se concorrer ao tão cobiçado Oscar (cujo motivo, sinceramente, desconheço... ou não consigo entender) vejo que teria um pró e dois contras: como o prêmio possui (sempre foi assim) um forte viés político, pode ser que consiga algum destaque por lá; mas por ter cenas que estadunidense em geral não tolera (hipocritamente, claro... como homens com pênis eretos, mulher liberada que contrata um amante profissional) e não segue um padrão acadêmico de cinema (bastante apreciado em Hollywood), talvez nem seja selecionado para a disputa. 
De qualquer maneira, é um filme que deve ser visto, porque apresenta um impactante retrato do (difícil) empoderamento feminino. Em tempos de misoginia disfarçada do que chamo de "carinhos cruéis", mulheres em várias partes do planeta (depois da chamada revolução sexual, dos avanços do feminismo etc.) voltam a ser relegadas ao papel de "belas, recatadas e do lar". E o que é pior: com o "aval" das próprias mulheres! Portanto, fica a dica. Sim, porque talvez o diretor tenha mantido de propósito esse "alinhavado"... para que cada um na plateia termine a costura do jeito que puder. Ou, no mínimo, saia dali bastante tocado pelo filme. Repito: quem puder fazer esse dever de casa, óbvio. Os mais, digamos, "apressadinhos" simplesmente dirão: "Nossa, que filme chato e como essa mulher está acabada!"