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terça-feira, 24 de outubro de 2017

Por que uso um sobrenome e não outro?




Algumas pessoas (do Sul, principalmente) costumam me perguntar isso. 

Vamos lá... 

Com pouco mais de 19 anos, quando escrevi para cinema pela primeira vez (e meu nome teria que ir para os créditos de “argumento e roteiro”), o diretor me disse que ”Felipe Tavares” ou “Felipe Freitas” eram uma porcaria para cinema. “João”, eu mesmo não queria, porque nunca me identifiquei com esse primeiro nome. Aliás, não gosto de nomes compostos. Daí, já sem muita paciência, ele esbravejou:

“Deixe de frescura! Esse nome de batismo serve para médico, advogado, professor, qualquer outra coisa, mas não é forte para artista.”

E discutimos quase uma madrugada inteira (sim, esse diretor só trabalhava das 21h até as 6h do dia seguinte). E só via o sol nesse primeiro momento da manhã. Depois dormia. Acordava à noite. Era um vampiro.

Então adotei um dos sobrenomes da minha avó paterna, Isabel.

Para facilitar, aqui vai um pouquinho da minha árvore genealógica (apenas sobrenomes para evitar “clonagens” de documentos):

Avós por parte de mãe: Fioravante, era o sobrenome da minha avó; Freitas, do meu avô.

Avós por parte de pai: Greco era o sobrenome da mina avó; Nunes Tavares, os do meu avô.

Deles, vieram meus pais e meu sobrenome de registro: “de Freitas Tavares”.

Minha avó por parte de pai era surda, vivia em um mundo que era só dela (e isso me fascinava). Ralhava comigo por eu comer muito limão. Não chupava, comia com casca e tudo mais de dez limões cada vez que ia visitá-la. "Vai ficar azedo, guri!", ela dizia. Bobagem: azedo eu já era. E meu pai, como já contei em outra publicação, chegou a projetar filmes em Uruguaiana quando eu era bem pequeno. Mais tarde, quando passei a escrever roteiros, de alguma forma, o círculo se fechava, porque eu adorava mexer nos projetores e filmes que o pai trazia para casa. Sem dúvida, é uma das lembranças mais doces que trago daqueles tempos de guri. E não tenho muitas, não. Detestava ser criança. Aquilo de todos mandarem em mim era um porre. Lamento, mas não gostei de ser criança, não. Acho que já nasci velho, rabugento e “general” de mim mesmo. Receber ordem de alguém nunca deu certo, porque não tem “chefe” pior que eu mesmo: cobro de mim mais do que qualquer outra pessoa conseguiria.

Não sei por qual motivo não foi adicionado o sobrenome “Greco” na certidão de nascimento do meu pai. Acho que nem ele sabe explicar direito.

Meu nome, com todos os sobrenomes, seria: “João Felipe Fioravante de Freitas Greco Tavares”.

Eu adoraria ter esse nome pomposo, mas me registraram apenas como: “João Felipe de Freitas Tavares”. O primeiro nome foi por eu ter nascido num comecinho de noite de São João. O diretor tinha razão: podia ser bonito, imponente, mas não era um nome artístico.


De qualquer maneira, por me dar bem com a minha "vó" Isabel, adotei “Greco” para que o diretor parasse de me atormentar.


Mesmo assim, sem me avisar, ele mandou colocar nos créditos de abertura do primeiro filme: Felipe Grecco. Sim, com duplo “cê”. Quando vi, levei um susto. Mas ele se justificou:


“O filme vai para o exterior; fica melhor o Greco com dois ‘cês’”


Passada essa época do cinema, na primeira publicação, cortei um “cê”... e segui com este pseudônimo literário: “Felipe Greco”, que já tem até uma linha no dicionário mais utilizado na internet: 


https://pt.wikipedia.org/wiki/Felipe_Greco 

Esclareci tudo isso, porque, dias atrás, um jovem cineasta e também pesquisador de cinema me procurou para saber se eu tinha escrito esses filmes trashs na Boca do Lixo nos anos 1980/1990. Sim, fui eu.

Tá explicado?


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