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segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

+ URBANIDADES (natalinas)




Aconteceu no shopping Jardim Sul, nesse sábado de Natal... Não que eu fique ouvindo a conversa alheia, essas pérolas do cotidiano é que me perseguem... Bem, eu tomava um café, tranquilamente, observando aquele tedioso desfile de sacolas pra lá e pra cá, quando duas coroas grã-finas sentaram-se bem perto de mim. Ambas com muito botox na cara e roupas de ginástica coladas ao corpo (vários números a menos). Ficaram em silêncio por um tempo. Então uma mocinha veio e serviu o que elas haviam pedido... 

De repente, a mais marombada resolve alfinetar a amiga:


— Credo, mulher! Esse doce aí é de puro açúcar! Você precisa fazer regime!


A mais rechonchuda, dando uma garfada bem generosa na torta de limão, rebate:


— Não ligo mais pro meu peso. Estou tranquila. Com o que juntei, trabalhando de domingo a domingo na minha loja, posso comprar o aplauso que quiser e todo tipo de elogio. Michê é mais barato e dá menos incômodo. Se eu soubesse disso antes, nem tinha me casado com aquele traste lá de casa. Mas não pode ser amante fixo, tem que variar o cardápio. Transa fixa já é traição, né? Coisa de gente sem caráter ou preguiçosa. E o que não falta é garotão musculoso se oferecendo em academia, de todos os tipos, tamanhos e preços. Disponíveis pra homem ou pra mulher. Tanto faz o que tá escondido na braguilha, o que importa pra eles é o que os clientes têm no bolso ou na bolsa. Olha aquele lá, ó, que piscou rápido pra mim! Lindo, não? Já peguei duas vezes...


— Nossa! Jura? 


— Tá ali, com a noivinha, mas aquele tênis caro que ele tá usando, deve ter comprado com o meu dinheiro. 


— Vai, me dá um pedaço de torta! Depois dessa, que se foda a balança! Também tenho as minhas economias, vou torrar tudo com bofe!


Comecei a rir. Vendo que eu tinha achado graça daquilo, elas riram de volta para mim. 


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Obs.: Não, não era flerte. Faz séculos que não acontece isso comigo; já sou peça fora de catálogo ou, no máximo, de colecionador bem excêntrico. Hoje, quando alguém (mulher ou homem) olha demais para mim na rua, meu "senso de ridículo" já detecta de imediato: a criatura, se não for psicopata ou míope, deve estar querendo pagar alguma promessa bem complicada. Não me iludo, nem me arrisco.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Igreja do "Divino" Foda-se


(Obs.: Diferente de outros autores, não tenho gravador digital, nem carrego bloco de anotações, mas meus ouvidos são bons e minha memória é invejável.)
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Quase véspera de Natal. Duas amigas dentro de um ônibus lotado, voltando de mais um dia de trabalho duro na casa dos bacanas...
— Não sou louca de não ouvir o que o meu pastor disse sobre enfeitar árvores, comprar presentes, comer que nem condenado e depois, na virada do ano, pular sete ondas para encosto — esbraveja a mais nova, horrorizada. E completa: — Isso é coisa do demônio, pecado, idolatria!
— $%@#&+&@!!!! $%@#&+&@!!!! $%@#&+&@!!!!
— Que é isso, mulher?
— Foda-se! Foda-se! Foda-se!
— E que língua doida é essa?
— Dos anjos! Um deles soprou agora no meu ouvido! Disse que preciso montar outra igreja, a do Divino Foda-se! Fico mais rica que esse teu pastor... e mando este paisinho safado à merda!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Um ser bem mais evoluído que eu





Já estou quase com os dois pés nos meus 50 anos, tive incontáveis separações (de pessoas, lugares, coisas...), conheci "longas distâncias" (de pessoas, lugares, coisas...), enfrentei grandes decepções (com pessoas, lugares, coisas...) e pude ver de perto a minha morte (cara a cara, mesmo) em duas ou três situações bem críticas. Mas me recuperei e segui andando firme. No entanto, somente agora fui capaz de sentir e entender o que é a dor dessa tal "saudade", única palavra que chega perto da "tradução" do sofrimento intenso e constante que vai triturando a gente de dentro para fora. Não dá trégua, nem dará. A gente vai ter é que encontrar uma forma de conviver melhor com ele. 
Oh, bichinho danado para me amansar depois de velho, viu! No riso, no choro e até na raiva... ele sempre conseguia (e ainda vai conseguir) me domar. 
Valeu por mais essa, Cacá!





Obs.: Vê se agora me dá sossego, meu anjo. Já fiz as lições de casa por hoje. Amanhã retomaremos, o.k.? Prometo.



sábado, 19 de novembro de 2016

Loiras do Morumbi



Trecho de uma nova peça (pois é, retomei isso... escrever diálogos... que foi o começo de tudo):


CENA 1

Duas coroas esperam sentadas (qualquer lugar serve; depois de certa idade, tudo é espera para elas).

Judith - (sem muita vontade de falar, porém incomodada com o silêncio da outra) Então, né...?

Verônica - É...

Judith - E a senhora, como anda?

Verônica - Nem muito lá, nem muito cá.

Judith - Tudo na mesma?

Verônica - Não. Ultimamente, piorando.

Judith - (falsamente solidária) Nossa!

Verônica - E a senhora, tem feito o quê?

Judith - O de sempre.

Verônica - Michê! Jesus, ainda?
Judith - Cada vez menos, mas não posso me queixar.

Verônica - Uau! Uma teimosa entre nós!

Judith - Não, uma sobrevivente. Teimosa é a senhora, que ainda consegue estar viva com essa cara amassada, esse corpo tombado e esse veneno todo borbulhando aí dentro. Devia ser estudada pelo Instituto Butantã... ou pela Nasa.

Verônica - E eu sinto é pena...

Judith - De mim?

Verônica - Não, dos seus clientes, meu bem.

Chega a terceira, tinha saído para comprar churros, mas voltou com meio saco de pipoca doce.

Judith - (para Gil) E os churros, criatura?

Gil - Comprei.

Verônica - Cadê?

Gil - Sou compulsiva, comi.

Judith - Os três?

Gil - (para Judith) Na verdade, com o dinheiro que a senhora me deu, pude comprar cinco, para ver se trazia dois.

Judith - E comeu os cinco?

Gil - Seis. Com o troco, comprei mais um e esta pipoca. Sobrou um pouco, querem? Odeio pipoca! Comprei por comprar, também sou compulsiva em gastar grana dos outros.

Verônica - (para Judith) Tem jeito, não. Avisei pra não confiar nessa draga.

Gil - Credo! Quanta intolerância!

Judith - Não, é raiva mesmo!

Gil - Inveja, meu bem! Posso devorar um boi, mas não sou como vocês, que engordam até com o vento.

Judith - Pra emagrecer, a gente fecha a boca. Mas pra você ficar bonita, querida, nem com reza forte. Nascendo de novo, talvez.

(... e o texto segue...)


© Felipe Greco
(diretos reservados)




terça-feira, 8 de novembro de 2016

Gaiolas e voos




Andorinha no céu é sinal de verão, dizem. Eu nunca tinha visto uma de perto. Hoje cedo, apareceu outra (ou a mesma de ontem, não sei). Mais corajosa que a anterior, pousou na janela do meu escritório, onde escrevo diariamente. Olhava para mim, curiosa. Talvez quisesse saber: "Com um céu imenso e ensolarado lá fora, por que eu não voava logo dali?"
Pois é... Cada um faz o voo que pode e no espaço que tem, não é mesmo?
Depois de ajeitar as penas com o bico, ela se cansou daquela visita, bateu asas e partiu. Permaneci na minha gaiola, voando em círculos.


quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Presente de mãe



Flor de “vó”, é o que dizem. Em casa de “vó” sempre tem uma dessas. Ou tinha. Na casa da minha avó, sim, tinha uma... e bem grande. No Natal, recebia luzes e enfeites... Na verdade, era na casa dos meus pais, que depois passou a ser da minha avó paterna, de quem peguei emprestado o sobrenome Greco: Isabel Greco Tavares. 

No Sul, chamam essa árvore de “primavera”. Mas é “manacá-de-cheiro”. E as flores exalam um perfume inconfundível. 


Aqui por perto, no bairro em que moro, felizmente, há uma dessas... Já está carregada de flores e aromas.


De vez em quando, passo por ali. Não tem como não voltar no tempo, mas não com saudosismo. Não sou saudosista. Boas lembranças, apenas isso.


Atualmente, na nova casa dos meus pais, tem outra dessas. Quando estive lá, minha mãe quis que eu trouxesse uma muda. Preparou tudo. Do jeito dela, claro, só raiz e caule (diz que é assim que a planta aguenta viagens longas)... Na última hora, desisti... Uruguaiana fica "ao lado" da Argentina, mas também do Uruguai. 


"Mãe", eu disse, "e se me pegarem no aeroporto, pensando que é muda de maconha? Vou dizer o quê: que é maconha da mãe?" 


Ela ficou me olhando... Daí, rebateu: 


"Deixa de ser medroso! Te dou umas folhinhas, também. Se te pegarem, mostra pra eles e diz que fui eu que botei a muda na tua mala. Isso aí é bobagem que inventam pra ganhar dinheiro sem pagar imposto. Cachaça, vendem em qualquer boteco e se pode levar na mala; maconha, não?"


"Tá doida, mãe?"


"Ué, tu não é artista? Se tem medo de escândalo, vai fazer outra coisa, ora!"


Minha mãe sempre foi bastante pragmática. Mas... eu, hein? Preferi ser medroso, deixei lá com ela a muda.


Tem cada mãe, viu! A minha, acho que daria um livro. Ou vários.



domingo, 11 de setembro de 2016

Novos velhos tempos




Em meados dos anos 1980, com 17 para 18 anos (naquele tempo a maioridade era aos 21, precisei ser emancipado pelos meus pais para poder estudar em São Paulo) quando fui divulgador na Editora Vozes, ajudei a trabalhar esta obra junto à imprensa: Brasil: nunca mais, com prefácio de Dom Paulo Evaristo Arns. 

A famigerada ditadura militar caminhava para o fim. 

E veio o fim (?). 


Comemoramos!


Havia esperança de voltarmos de fato à democracia. 


"Eleições diretas já", reivindicávamos nas ruas. 


E elas vieram (não completas, mas vieram). 


Então recebemos o primeiro revés da história: o presidente eleito morreu (?), Tancredo neves não chegou a assumir. No lugar dele, recebeu a faixa José Sarney (vice, era do PMDB). 


Na década seguinte, novas eleições (bastante manipuladas pelas mídias) colocaram (!) Fernando Collor no poder. O barco desse novo governo logo fez água (mais por arrogância e incapacidade de gerenciamento político do presidente que corrupção; hoje sabemos disso). Outro do PMDB ficou no lugar dele: Itamar Franco. 


Então veio Fernando Henrique, em quem, confesso, depositei esperanças; por ele ser intelectual e acadêmico reconhecido, acreditei que iria, finalmente, investir pesado em educação. Que nada, tudo continuou como estava nessa área... ou até piorou. 


Depois vieram Lula e Dilma... Até que, por uma manobra que a história (se bem contada) deverá tirar a limpo, volta a assumir o poder alguém do partido soturno e sobrevivente (?) da ditadura... Ou seja: Michel Temer, do Partido do Movimento Democrático (?) Brasileiro (PMDB, antigo MDB... quando só havia Arena, de direita, e MDB, supostamente de esquerda). 


Nas manchetes, agora parte do povo volta às ruas pedindo novas eleições. Também políticos conservadores que defendem (?) tradição, família e propriedade (TFP ressurgida das supostas cinzas) acabam envolvidos exatamente no que tanto alegam estar dispostos a combater (?): a corrupção. Nas passeatas, a polícia militar entra em confronto com os manifestantes. Bombas são jogadas. Prisões são feitas de modo aleatório (?). Agentes (?) são infiltrados. Arruaceiros, talvez idem, para justificar (?) tais represálias violentas aos movimentos. 


Emfim, vendo tudo isso, a pergunta que fica é: houve mesmo uma volta à democracia?
A(s) ditadura(s) acabou(acabaram)? 


Hoje, eu acrescentaria ao título deste importante livro sobre torturas e torturadores um "talvez". Ficaria assim: Brasil: (talvez) nunca mais.


Algo para pensarmos com muito cuidado e carinho, não?



domingo, 4 de setembro de 2016

Apenas uma opinião...



Fui ver Aquarius. O filme é quase um tributo à atriz Sônia Braga (que está mais uma vez totalmente entregue em cena e se "atreve" a desconstruir a própria imagem de "símbolo sexual", aparecendo sem maquiagem e com um dos seios mutilado pelo câncer). Ela, como eu já disse em outra postagem, "é" da lente de cinema, sem dúvida. Não filma, faz amor com a câmera e anda solta pelos cenários... com a desenvoltura de alguém que mostra a casa para os amigos. Algo que não se aprende: a pessoa tem ou não tem. Pode até ser excelente artista de teatro e/ou televisão, mas se não tem essa intimidade com a telona, dançará. 
No entanto, na minha opinião, a história não se segura. Há ótimos diálogos soltos em uma trama que não se sustenta dramaticamente. 
Assuntos (bons temas, sim, como a solidão na velhice, falta de comunicação com os filhos, a rejeição por causa das profundas cicatrizes deixadas pelo câncer de mama feminino, entre outras questões importantes e bem atuais) são jogados à plateia. Porém o "acaso" (como num passe de mágica) surge para tentar arrematar todo aquele interessante chuleio. Uma bela colcha de retalhos, mas apenas alinhavada. 
Se concorrer ao tão cobiçado Oscar (cujo motivo, sinceramente, desconheço... ou não consigo entender) vejo que teria um pró e dois contras: como o prêmio possui (sempre foi assim) um forte viés político, pode ser que consiga algum destaque por lá; mas por ter cenas que estadunidense em geral não tolera (hipocritamente, claro... como homens com pênis eretos, mulher liberada que contrata um amante profissional) e não segue um padrão acadêmico de cinema (bastante apreciado em Hollywood), talvez nem seja selecionado para a disputa. 
De qualquer maneira, é um filme que deve ser visto, porque apresenta um impactante retrato do (difícil) empoderamento feminino. Em tempos de misoginia disfarçada do que chamo de "carinhos cruéis", mulheres em várias partes do planeta (depois da chamada revolução sexual, dos avanços do feminismo etc.) voltam a ser relegadas ao papel de "belas, recatadas e do lar". E o que é pior: com o "aval" das próprias mulheres! Portanto, fica a dica. Sim, porque talvez o diretor tenha mantido de propósito esse "alinhavado"... para que cada um na plateia termine a costura do jeito que puder. Ou, no mínimo, saia dali bastante tocado pelo filme. Repito: quem puder fazer esse dever de casa, óbvio. Os mais, digamos, "apressadinhos" simplesmente dirão: "Nossa, que filme chato e como essa mulher está acabada!"
  

sábado, 6 de agosto de 2016

Mundo sem arte

Fé e hipocrisia... Esse pregador (E. Dewey Smith, da House of Hope em Atlanta, Geórgia) dá um chute em muitos "rezadores" (de todo tipo) que se ajoelham para Deus, mas logo saem tacando pedra no próximo (em especial, nos homossexuais). 
O mesmo vale para outros hipócritas, que vivem atacando artistas, chamando-os de vagabundos, perdulários, viciados, degenerados, inúteis etc. 
Ontem, na abertura dos Jogos Olímpicos de 2016, em um espetáculo com poucos recursos técnicos e muita criatividade/garra, o país sentiu um bom alívio, não? E, vendo aquilo, pensei muito nas perseguições atuais que a classe artística vem sofrendo no Brasil. Ora, se temos ainda algum "crédito" além fronteiras, devemos muito a uma infinidade de artistas talentosos/desbravadores, não a diplomatas, políticos, burocratas, empresários etc.
Pois bem, tiremos do mundo os tais "vagabundos, perdulários, degenerados, inúteis etc." e, como diz esse corajoso pregador, "vamos ver quantas canções poderemos cantar no próximo domingo". 
Apontemos, então, um período da nossa história (das cavernas até hoje) sem a arte... Sem crenças, religiões e afins, muitos povos sobreviveram e ainda sobrevivem muito-bem-obrigado em algumas partes do planeta. Sem qualquer expressão artística, desconheço.
Um bom domingo a todos!




sexta-feira, 22 de julho de 2016

Pós-modernidade?



Andei sumido, porque não tinha muito o que dizer. Mas vamos lá...

Quando jovem, antes de visitar e/ou me hospedar numa cidade, eu costumava dar uma conferida na altura da torre das igrejas. Se fossem mais altas que os demais prédios, eu já tinha uma noção do que iria encontrar. Hoje, também dou uma investigada na quantidade de academias de musculação. Sim, porque, décadas atrás, eu ainda tentava descobrir quantas livrarias existiam, que tipo de livro vendiam e o volume de clientes nas lojas. Grandes ou pequenas, atualmente já quase não existem livrarias com livreiros de verdade, transformaram-se em "supermercados": muita gente dentro, mas poucos exemplares nas mãos dos frequentadores. Caixas praticamente sem ninguém para pagar por livros (outros produtos, sim). Há quem confunda livraria com biblioteca. Ou nem isso; o sujeito vai lá, lê de modo superficial, estraga o exemplar... e se manda dali sem adquirir obra alguma. 

As torres das igrejas, é verdade, já não são tão altas, mas se multiplicaram e se desdobraram em outras de variadas ladainhas sobre o mesmo Cristo & afins. Agora, igrejas e academias de musculação me ajudam a sondar os terrenos em que vou pisar. É tempo de fé e corpo em dia, cabeça prontinha para aceitar cabrestos (físicos e espirituais).
Essa é a tal pós-modernidade tão esperada? 
Parece que não. 
Infelizmente, andamos para trás. Perdemos alguma disputa/etapa no jogo da vida e fomos forçados a voltar muitas casas no tabuleiro da evolução.  



segunda-feira, 4 de julho de 2016



"Agora, mais que antes, Júlia acorda decidida e já vai direto para a sacada. Braços bem abertos. Mãos nervosas. Unhas negras querendo rasgar o ar. Se desse tempo, escreveria com o próprio sangue nas paredes: sou um pássaro de fogo que, no desesperado bater de asas, roga aos céus urgência para o seu voo. Respira fundo. Faz primeiro um sinal da cruz mecânico, apressado, mais pelos anos de condicionamento no colégio de freiras do que por fé. Depois, de olhos fechados, prepara o salto sem medo. Dali até a calçada, quase vinte andares. Mas a queda será macia, imagina, e tudo de ruim ficará para trás. Tombo rápido, morte que me chama sem dor. 

Metade do corpo saindo do parapeito... e a faxineira começa a girar a maçaneta da porta da suíte. 

Merda, Júlia resmunga, esqueci de trancar de novo! Pula de volta e disfarça, como tem feito ultimamente, ajeitando-se no chão para simular uma dessas complicadas posições de ioga. Não passa de hoje, promete a si mesma, acerto as contas e mando embora esse diacho de mulher enxerida!"

(© F. G. - trecho de novo conto sendo parido)