Até ontem, eu não aparentava a minha idade – ainda que por dentro eu fosse bem mais velho do que constava em meus documentos. Acontece que o peso brutal da minha idade interior se escondia na falsa ideia de juventude da minha cara, do meu corpo, de quase tudo que havia para ser visto/mostrado.
O que somente eu sentia e sabia dessa outra idade camuflada? Dores físicas e psicológicas que se alimentavam vorazmente na correria das horas, aproveitando-se de modo sádico do meu crescente desencanto. Sim, porque às vezes acho tudo muito inútil e besta. A verdade é que se vive de novos (des)enganos. Apenas isso. “Envelhecer”, escrevi num conto antigo, “é colecionar frustrações”.*
O que somente eu sentia e sabia dessa outra idade camuflada? Dores físicas e psicológicas que se alimentavam vorazmente na correria das horas, aproveitando-se de modo sádico do meu crescente desencanto. Sim, porque às vezes acho tudo muito inútil e besta. A verdade é que se vive de novos (des)enganos. Apenas isso. “Envelhecer”, escrevi num conto antigo, “é colecionar frustrações”.*
Pois é, hoje acordei e vi um estranho no fundo do espelho do meu quarto. Meio encabulado, ele me espreitava em silêncio. A partir de agora, sei que esse cara (mais grisalho e cansado; menos irreal) vai querer se apossar cada vez mais de tudo que ainda há em mim.
* “Encontro na chuva”, conto do livro Relicário (GLS/Summus, 2009).
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