Infelizmente,
não é raro receber solicitações de exemplares. Em cortesia, claro. Tanto de
livros meus quanto de autores da editora. E grande parte dos pedidos vem de
educadores. Como se fosse um produto barato (em termos de produção) e com
grandes “sobras” para distribuição gratuita de livros impressos.
Quanto
ao formato digital, em breve (e aos poucos), minha editora começará a
transformar boa parte do catálogo em e-books. Já contatamos alguns
autores, nem todos aceitaram o “desafio”. Sim, desafio, porque há um grande
risco de as obras irem parar na internet, sem controle de download.
Embora os distribuidores e as plataformas importantes utilizem o DRM (um
dispositivo Adobe para controlar cópias piratas, impressão de conteúdo, vendas
etc.), um professor-autor alertou que isso não é o bastante para proteger a
obra. De fato, na própria internet há vários sites que oferecem programas
gratuitos para “quebrar DRM”.
Claro
que o problema de pirataria sempre existiu e existirá, já que é mais por uma
questão de índole do que “por culpa do custo elevado” de determinados produtos.
Já tive, por exemplo, um professor universitário que disponibilizou sua
obra na famosa “pastinha de xérox”... para que os alunos a copiassem à vontade.
“Mas,
professor, é a sua própria obra!”, reclamei (detalhe: eu era o editor daquele
livro, tbém estava sendo prejudicado com aquela pirataria).
A
resposta dada pelo autor foi: “Fazer o quê, se eles vão copiar de qualquer
jeito? Pelo menos, que seja do meu exemplar”.
Hoje,
com os avanços da informática, xérox já é quase coisa do passado. Tudo é
virtual, rápido e, de preferência, sem custo.
Diferente
do que acontece nas escolas (onde os alunos são obrigados a adquirir uma pilha
de livros e/ou o governo fornece por meio de programas do MEC), nas
universidades, copiar obras é uma prática “tradicional”. Professores (autores
ou não) fazem vistas grossas à Lei de Direitos Autorais, porque, na prática,
não podem evitar esse tipo de atitude. Até os próprios educadores copiam obras
sem autorização, conforme reza a lei.
Lei?
Que
lei?
Ora,
quase ninguém conhece a Lei de Direitos Autorais. (Aliás, devia ser ensinada
nas escolas e universidades.)
Daí,
é aquela eterna bola de neve: “livro é caro demais, porque é pirateado. E é
pirateado, porque é caro demais”.
Mas
é caro mesmo (mais que a bebedeira nos botecos às sextas-feiras em torno das
faculdades)? No caso de versões digitalizadas, os preços caem em torno de 30%
(até mais). No entanto, continuam sendo pirateadas. É preço ou descaso,
exatamente, com o que se está buscando nas academias: conhecimento?
Conhecimento é algo sem importância, que merece ser “saqueado”? E os autores,
os editores, todo o investimento feito para que aquela obra chegasse às mãos do
consumidor final, nada disso teve um custo, foi tudo de graça? E mais: aquele
autor (cantor, ator, diretor, escultor, pintor etc.) do qual somos fãs, mas tão
fãs, que vamos roubar o seu ganha-pão, pirateando suas obras maravilhosas, que
mudaram nossas vidas! Puxa, troquemos rápido, então, de ídolos; não mudamos
para melhor, não! Continuamos mesquinhos!
Definitivamente,
não consigo entender essa lógica... Se gosto e/ou preciso de algo, faço questão
de pagar por aquilo. Comprar uma cópia barata é o mesmo que passar um recibo de
incapacidade de conseguir algo superior. Se meu bolso anda meio vazio e não
posso comprar o “produto novo”, garimpo sebos e/ou bibliotecas públicas. No
limite, peço emprestado a alguém. É o mínimo. É uma questão de respeito ao
autor/artista.
E
o que mais me deixa abismado é saber que muitos “piratas” têm saído às ruas
para reivindicar por um país (até um planeta) livre de corrupção.
Por
acaso, corrupção (no sentido mais amplo da palavra) é só a “dos outros”?
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