Eu estava próximo ao Cemitério da Paz, aqui no Morumbi, quando duas senhoras, cheias de boas intenções, me abordaram de supetão:
“Jesus te ama, filho!”
No melhor do melhor de mim, devolvi a delicadeza:
“É? Que bom...”
Contentes com aquele meu espasmo de simpatia, elas se animaram e, revistas da religião delas em punho e versículos recitados com fervor, tentaram me convidar para um encontro de jovens:
“Tenho 51 anos...”, avisei.
“Mas é tão moço!”, uma delas disse admirada.
“Só de cara”, rebati.
A outra:
“Sou dez anos mais nova, e olhe só pra mim.”
Eu (não deveria ter dito, mas escapou):
“Muita igreja, talvez.”
Elas se entreolharam, riram contrariadas e, retomando a postura de recrutadoras de almas perdidas, ainda tentaram dar a última cartada:
“Temos que segurar na mão de Jesus, só o Cristo pode nos levar para o paraíso. Sabia que lá, no paraíso, vamos reencontrar todos os nossos amigos e parentes queridos?”
“Então é melhor eu ir para o inferno...”
“Credo!”, gritou a mais alta.
“Não diga isso, filho!”, emendou a outra.
Por sorte, o sinal já estava fechando para os carros e abrindo para os pedestres. Aproveitei para finalizar:
“Já tô acostumado com o inferno e nesse paraíso aí não vai ter muita gente que conheci, não.”
Cruzei a rua. As duas mulheres ficaram do outro lado, olhando pra mim e cochichando. Evito, faço de tudo para fugir de situações desse tipo. Juro que não sou eu que corro atrás dessas histórias, elas é que me perseguem a todo instante pelas ruas.
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