Não, doutor, não sou inseguro, mas exigente. Isso, às vezes (ou sempre),
é um fardo pesado (para os outros e também para mim). Veja só: quando eu tinha 10
ou 11 anos, minha mãe desistiu de me dar presentes de Natal, aniversário, o que
fosse. Não que ela tivesse um gosto, digamos, "muito particular" para
escolher os presentes para o caçula da casa, mas, infelizmente, não dava uma dentro, nunca. Daí, achou melhor economizar, e passei a receber dinheiro em vez de presentes. Na verdade, acho que ela queria mesmo era desistir de ser minha mãe, porém decidiu me dar dinheiro. Afinal, já era um pouquinho tarde para me abortar, né?
Mais adiante, apenas para dar um exemplo desta minha obstinação pelo melhor
resultado (e a querida amiga Adriana Chagas testemunhou isso), quando ainda
era preciso tirar e levar fotos 3x4 para a carteira de identidade, cheguei a ir
a 10 fotógrafos diferentes (em São Paulo e Santos) para poder escolher a foto
menos “assustadora”.
Imagine, então, o "parto a fórceps" que costuma acontecer
quando estou escrevendo algo meu... Pois é, a produção do roteiro e dos quadrinhos de Dom
Casmurro levou seis anos... E o romance que escrevo agora já recebeu
tantas "marteladas" (quatro anos de carpintaria de texto), que já nem
sei mais se o original sobreviverá por muito tempo. Bom, se não sobreviver, é
porque já nasceu meio morto, certo? E "la nave va"...
Não, doutor, não me olhe assim. Não, não é que eu não goste do
jeito que o senhor me olha... Mas a sua cara, talvez o senhor pudesse dar um
jeito de melhorar o corte de cabelo, pôr um aparelho nos dentes, mudar de óculos, de corpo, de encarnação...
Enfim, quanto lhe devo? Vou procurar outro psiquiatra; o senhor, lamentavelmente, não serve para escutar as minhas memórias. Puxa vida, tá ficando difícil de ser louco, viu?
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