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segunda-feira, 26 de março de 2018

A volta dos que nunca foram de fato




Morros cariocas ameaçam descer e Tuiuti põe o dedo na ferida de muitos. Praticamente, a resposta vem no dia seguinte: milicos nas ruas do Rio. Esse é um claro sinal de manobra política, mais para abafar a derrota das reformas na previdência do que uma preocupação real com a violência. Perigosa, muito perigosa essa manobra. Mas, como nos anos 1960, a classe média pediu novamente “ordem e progresso”. Alguns pobres iludidos, também. Em país maduro, não é governo ou milico, mas toda a sociedade se comporta com seriedade. Não temos isso aqui, talvez nunca tenhamos.

Recentemente, em uma entrevista para a TV, um europeu disse que em países como a França, por exemplo, é clara a divisão: todos sabem que os ricos comandam tudo – portanto, são os verdadeiros inimigos do povo. Com isso em mente, a população sabe como agir para impor limites à exploração. Já em países subdesenvolvidos, a classe média, além de ser inimiga dos pobres, tem a ilusão de fazer parte da classe dos que sempre mandaram em tudo. Sem união, classes média e baixa perdem a força de luta por direitos; são facilmente controladas.


Os discursos para atacar a luta por igualdade de direitos é antiga, ainda ouvimos brados insanos de “o Brasil não será uma nova Cuba”. 


Depois do impressionante desenvolvimento econômico da China (o salário mínimo é maior que o do Brasil e o gigante vermelho ataca o mundo com a maior arma do capitalismo: o consumo desenfreado), e ainda essa velha ladainha de “comunismo miserável e nefasto”? 


Ora, a maior parte das pessoas que conheço é de aposentados e assalariados, poucos conseguiram adquirir bens muito significantes ao longo da vida, e todos ainda morrem de medo de perder o "quase nada" que conseguiram juntar. E foi no regime comunista que isso aconteceu? Não, nunca tivemos um regime comunista. 


Aliás, nem se sabe direito o que é viver em um regime comunista; não temos referências concretas, apenas o que lemos ou ouvimos dizer. Boatos, apenas boatos. Asneiras muito fáceis de difundir em um país com um índice alarmante de analfabetos funcionais (em todas as esferas da sociedade).

O que todos vivenciamos é um sistema político e econômico perverso e corrupto há séculos: o capitalismo mesquinho e mambembe. E não é só aqui que isso existe. Semanas atrás, em Fort Lauderdale–Hollywood International Airport (Miami), um funcionário credenciado nos pediu propina para melhor despachar as nossas bagagens. E, mesmo assim, romperam sorrateiramente os lacres de uma das malas. E temos outros (maus) exemplos de gente que também quer levar vantagem por lá, como acontece aqui. 


Assim, penso que o melhor caminho é o de esquecer esse blá-blá-blá de “ameaça comunista” e tentar arrumar a nossa casa.


Não é uma maravilha de casa, nunca foi, talvez nunca seja, mas é a que temos.


Colocar milicos nas ruas é tentar apagar o incêndio jogando areia no fogo: pode abafar por um tempo, mas a labareda surgirá em outro lugar. Atacar não é o mesmo que enfrentar o problema. Com inteligência, não com força, é que se costuma resolver questões complexas como o avanço do crime organizado. O crime não se organizou do dia para a noite, isso demanda tempo, facilidades e ajuda de todo tipo. Em maior ou menor grau, todos nós somos cúmplices desse avanço da bandidagem (que também existe em todas as esferas sociais).




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