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quarta-feira, 4 de julho de 2018

Genet, o profeta maldito



Era 1969, e o teatro paulistano apresentava uma missa profana em plena ditadura militar. O texto, do arredio Jean Genet: "O balcão". Direção lúdica e futurista do franco-argentino Victor Garcia. Na produção e em cena: Ruth Escobar. Ela teve que "implodir" palco e plateia do seu teatro na Rua dos Ingleses para dar espaço à montagem deste argentino genial (e tbém "insano", no melhor sentido da palavra). A confecção/concepção dos cenários foi de Wladimir Pereira Cardoso. No elenco, dezenas de atores (alguns que se consagrariam mais tarde, como Célia Helena, Jofre Soares, Lilian Lemmertz, Ney Latorraca, Paulo César Pereio, Raul Cortez, Carlos Augusto Strazzer e Teresa Rachel, entre outros). 
Um grande bordel com arquétipos do poder: bispo, chefe de polícia, general, rebeldes etc. Visto dos bastidores, o poder é um grande cabaré, um palácio para realizar sonhos impossíveis e satisfazer desejos mundanos. Sempre foi assim, nunca mudará.
O povo, nessa montagem a plateia assistia a tudo em vários andares/ângulos, foi transformado em "voyeur", aquele que espia, se comove, se excita e, de vez em quando, se revolta (porém raramente interfere para mudar a "trama"; precisa da cena como ela é para poder continuar incógnito no seu sofrimento ou deleite). No bordel/poder, todas as personagens têm que representar muito bem os seus papéis. Assim, as engrenagens, dentro e fora do sistema, funcionam perfeitamente.  

"O JUIZ [ao carrasco e à puta que faz o papel da ladra] - Bem. Até agora tudo bem. Meu carrasco espancou com força... pois também ele tem sua função. Estamos ligados: você, ele e eu. Por exemplo, se ele não espancasse, como é que eu poderia impedi-lo de espancar? Portanto, deve bater para que eu intervenha e prove minha autoridade. E você, deve negar para que ele bata cada vez com mais força."

As interpretações do elenco da época podem parecer exageradas (para os padrões atuais), mas a encenação continua beeeeem à frente daquele tempo e, principalmente, dos dias de hoje. 
Ver imagens como estas chega a me dar vergonha por termos voltado às cavernas (social, cultural e politicamente).
Sempre quis ver a montagem. Agora, pelo menos, vinte e poucos minutos estão disponíveis neste link:








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