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terça-feira, 7 de agosto de 2018

Livro caro





Ontem, durante uma ótima entrevista no Conversa com Bial, um importante editor explicou que o livro perdeu o sentido de valor, e que isso é um dos principais fatores da eterna falta de leitores no país (realidade diferente da de outras partes da América Latina). Aqui, por exemplo, para ir ao cinema (hoje, quase todos em shoppings ou bem distantes de casa) é preciso pagar, além do ingresso, também o valor do estacionamento (ou da locomoção). Aquele passeio, ou aquela diversão, durará, no máximo, duas horas. Pelo mesmo (ou até menor) valor, compra-se um bom livro e a leitura demandará dias, semana(s), até mais tempo.

Estudantes universitários também usam a mesma desculpa para justificar as cópias feitas durante os cursos de graduação: "Livro devia ser mais barato".

Certa vez, num bate-papo com professores e estudantes em uma conhecida faculdade de São Paulo, rebati essa "argumentação", dizendo:

"Pelo visto, quase todos aqui vêm de escolas particulares. Durante os ensinos fundamental e médio, os pais de vocês foram obrigados a comprar material escolar e toda aquela pilha de livros que, no final do ano, não serviriam para mais nada. No entanto, agora, quando vocês teriam que investir em obras que formarão a biblioteca imprescindível para o exercício da profissão que escolheram para o resto da vida, preferem ir para o boteco beber cerveja nos finais de semana. Em vez de comprar livros, fazem cópias de capítulos. Em vez de ler a obra inteira, leem trechos para as provas  muitas vezes, infelizmente, incentivados pelos próprios professores. Eu, sendo franco, quero ser atendido por um médico que não se formou lendo trechos de medicina, porque não terei uma doença pela metade e precisarei de um tratamento completo para poder me curar. E assim por diante com advogados, engenheiros etc." *

Riram do que eu disse. Constrangidos, mas riram, sim.

Pois é... Quando um povo acha que o livro é caro demais e que o boteco vale mais a pena do que ler, qual futuro terá?

* Não vou ser hipócrita; também copiei livros na faculdade. Mas os principais, comprei. Sem grana e desempregado na época, não sei como consegui, mas comprei, sim (ou peguei emprestado na biblioteca). Os capítulos lidos em cópias sempre me deixavam frustrado; a informação contida naquela obra (e o pensamento do autor) não se completava. Mais adiante, sempre que possível, comprei a obra completa e li – até mesmo para poder editar outros autores que utilizaram aquelas referências bibliográficas.


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