Que sou um ser bastante desatento, já é sabido. Não tenho
coragem de guiar carros, porque, andando a pé, consigo atropelar até mesmo
orelhões. Imaginem um automóvel em minhas mãos! Pois é... Senta, que lá vem
história!
Um dia desses, andando pelas ruas desertas do Morumbi (ou
Murosbi, pois só há muros aqui, neste bairro metido a besta), percebi que as
pessoas me olhavam mais do que de costume. Pior: olhavam e sorriam
discretamente solidárias. Ao entrar no supermercado Pão de Açúcar, novos e cada
vez mais insistentes olhares. E eu, que nem gosto de ter espelho em casa para
não me assustar com minha cara e meu corpo cada vez mais derretidos pelo tempo,
comecei a me sentir cortejado. Puxa, será que ainda sou capaz de seduzir?
De repente, um olhar mais demorado. Desviei, claro. É sempre
bom bancar o difícil. Mas, de pois de certa idade, é melhor não exagerar. Não
exagerei. Ao olhar de volta, fui logo correspondido. Outra vez. E mais outra. “Estou
arrasando!”, pensei. Até que o fulano, que facilmente colocaria qualquer galã
de Hollywood no chinelo, veio e indagou baixinho:
— Posso lhe dizer uma coisa?
Eu, sem pestanejar: — Claro!
Ele, encabulado: — Sua camiseta, ela tá do avesso...
Pois é. Voltei correndo para casa e terminei de quebrar o último
espelho.
Como costumo dizer: se há vantagem em ficar velho... é saber
que a gente está mais perto do fim. O resto é romance, história para vender
livro. E disso, além da minha própria decrepitude, eu entendo bem.
Como prometi aqui estou a visitar o teu blog e gosto do que vejo. Vou voltar pois já juntei oteu blog na minha lista do Google Reader.Já agora gostava que lesses e se quisesses comentasses o meu último post,pois também é um conto,escrito por mim, para um desafio de um blog amigo
ResponderExcluirhttp://www.wwwdejanito.blogspot.pt/2013/01/nunes.html
Só por curiosidade,que idade tens tu?
Abraço.