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quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Novos caminhos


Antes, na pressa (e ingenuidade) de quem era jovem e sonhador, eu me desdobrava em mil para que esse ou aquele projeto desse certo. Ficava frustrado quando nada acontecia. Hoje, apenas faço a minha parte da melhor maneira possível e deixo acontecer (ou não). Se não acontecer, vejo que não era mesmo para acontecer. E que bom que não aconteceu daquele jeito, no tempo, lugar e com as pessoas que eu imaginava ideais.

Nas noites em que meu pai e eu nos despedimos, mesmo sem querer, ele me ensinou mais essa... Ele, que também foi relojoeiro, me fez entender (aceitar) as engrenagens do tempo, que não são as mesmas dos relógios e calendários. Ao finalizar o conto livremente inspirado naquelas nossas conversas, encomenda do meu velho, de certa forma eu me despedia de um tempo que já não me pertence mais... também não tem muito sentido carregar comigo. Um escritor, no fundo, é um inconformado, um rebelde movido pela paixão de contar histórias, iludir, provocar. “Um bom texto é único e apresenta uma visão de mundo peculiar”, ouvi de uma amiga que é importante agente literária no exterior. Essa visão de mundo muito minha (e estranha para alguns), ainda tenho. A paixão pela escrita, não mais, e gosto menos ainda de tudo que envolve o universo dos escritores. Não é que tudo passe com o tempo, mas muita coisa vai perdendo o gás... se acomoda por dentro. Faz anos que não tenho mais a empolgação de antigamente com novos textos, livros e lançamentos meus. Acho que o Narciso interno do Felipe Greco (que é heterônimo, não pessoa real) foi domado. Melhor assim. E a vida seguirá por outros caminhos, outras curiosidades e novos desejos. 



sábado, 19 de março de 2022

Amor idealizado demais


 

Por falar em Rússia (na época, União Soviética e ainda estávamos na Guerra Fria), Andrei Konchalovsky dirigiria o seu primeiro filme nos EUA. Esta obra, apesar do título, não é sobre o amor romântico. Ou melhor: é, mas que não se completa exatamente por haver excesso de amor. O próprio amor exagerado impede o relacionamento do casal. 

É de 1984. Exibido no Brasil com o atraso normal de um ou dois anos, talvez até mais. Cada longa tinha, em média, oito rolos. Tudo demorava mais para chegar aos cinemas.

Ainda adolescente, assisti três vezes no mesmo dia para entender (ou chegar perto disso) a complexidade das personagens e a imensa solidão de cada um deles. Naquele tempo, era possível ver várias vezes o mesmo filme. Bastava continuar sentado na sala. As salas eram enormes, os funcionários não percebiam... ou não se importavam com os “ratos de cinema”.

Nastassja Kinski, mais lembrada (infelizmente) pela sua beleza e sensualidade, estava outra vez magnífica em cena. Faria outros filmes importantes, com diretores do chamado cinema de arte.

OS AMANTES DE MARIA (que, aliás, temos na nossa videoteca para rever de vez em quando) é obra que não envelheceu, nem envelhecerá, pq fala de sentimentos e conflitos humanos.

PARIS, TEXAS (do alemão Wim Wenders) também é outro filme dessa atriz que está intacto no tempo. Ela não aparece tanto, mas é responsável por uma das cenas que jamais vão sair da minha mente. Tanto que fiz uma referência à impressionante sequência do “bordel de espelhos” em O COVEIRO (romance de 2003 e 2019), recriando a cena de modo ainda mais decadente e marginal.

Era um período de grandes roteiros. Havia contexto e plateia para filmes com tramas mais densas e que exigiam um público mais atento e informado.

Pode ser que volte, mas vai demorar. A minha geração não estará mais aqui.