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sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Tudo tem uma história




Saudosismo? Pode ser... mas a verdade é que tem uma coisa que bate muito fundo em mim quando vejo enfeites de Natal antigos. Eram tão frágeis, muito difícil que durassem de um ano para o outro. Relíquias. Esse era o charme. 

Na minha infância e adolescência, sempre tivemos árvore de Natal em casa, algumas mais simples, feitas com galhos secos forrados com algodão... outras já bem cheias de bolas e lâmpadas coloridas compradas em lojas. Porém lembro que eu ficava fascinado em admirar a árvore da casa de outras pessoas. Cada uma, de certo modo, revelava um pouco da história daquela gente. Havia árvore exuberante, discreta, singela, engraçada, cafona e também as que carregavam um pouco de melancolia e solidão.


Em Buenos Aires, perto do famoso obelisco no cruzamento das avenidas Corrientes e 9 de Julho, há uma loja que só vende enfeites de Natal. Em duas viagens, tentei comprar algo lá, mas ela estava sempre fechada. Dava para ver apenas as vitrines com árvores, enfeites e luzes. Embora eu suspeite que não sejam enfeites antigos, tem algo naquela loja que me atrai muito. Ainda vou conseguir comprar lá... talvez o relógio cuco que vi na vitrine. Parece ser de vidro. É bem pequeno, feito para pendurar na árvore de Natal. Tomara que seja antigo, legítimo e que já tenha pertencido a alguém. Dane-se! Vou trazer na mão. Chegará inteiro. E que no caminho de volta ele deixe escapar alguma história; esses enfeites têm muita coisa pra nos contar.  De um Natal para o outro, vão guardando um pouco de nós. Quem monta uma árvore, sozinho ou acompanhado, conversa em pensamento com eles. Vários filmes passam na nossa cabeça. Alguns são maravilhosos, outros nem tanto.




quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Mentira dá lucro (e poder)



Está de volta aquele desafio de publicar fotos em preto e branco para lembrarmos da importância da prevenção do câncer de mama. Ok, é uma ação nobre e muito válida. Mas hoje, melhor e maior desafio seria mostrar os seios nas redes e mandar para os puritanos de plantão.

Sempre achei injusto isso de as mulheres não poderem mostrar livremente os seios, que são, para mim, o maior símbolo de sobrevivência e amor à vida. É a primeira fonte do alimento mais importante que recebemos. As mães continuam se doando aos seus rebentos depois do parto, passando a eles o que elas têm de melhor e mais puro: alimento, anticorpos, vitaminas, todo o cuidado e afeto. Essa cumplicidade com o filho somente as mulheres têm.     


Daí a terem transformado os seios em pornografia, erotismo, vulgaridade, vergonha etc., foi uma grande artimanha (mais uma vez) contra as mulheres na tal evolução da nossa espécie/sociedade. Para quem tem imaginação aguçada, tudo pode ser erótico: olhos, cabelos, pescoço, lábios, cotovelo, pés... "Golden shower" (sim, aquela inquietação/curiosidade do presidente), beijo grego, por que não? Desde que consentindo, o fetiche sexual é livre. Pois é... E houve época em que a mulher não podia mostrar perna, braço, pescoço (isso ainda acontece em algumas culturas). Mas logo na ocidental, que já levantou tantas bandeiras e derrubou incontáveis tabus, o seio feminino ainda precisa andar escondido? Conheço “marombados” que têm peitos maiores que muita mulher, e eles podem exibir livremente essa parte do corpo como um troféu, um sinal de virilidade e sei lá o que mais que inventam por aí.


Uma mulher amamentando o filho em público, isso é pecado, atentado ao pudor...?


Que porcaria de olhar é esse do homem que só vê (e impõe) o “condenável” e o “feio” ao corpo da mulher? Em que etapa da vida começa a ficar torta essa visão, já que nascemos sem essas travas na mente?


Do homem andar com o pênis escondido, até entendo: uma proteção necessária ao órgão nos primórdios, pois é uma parte do corpo muito vulnerável. Depois que saímos das cavernas, não deve ter demorado muito para voltar a ser protegido; agora não apenas em uma caçada ou luta, mas também do olhar “do outro”. A grande competição entre os do sexo masculino (héteros ou gays) é pelo tamanho do pênis, como se isso definisse macheza, virilidade, sinal de qualidade reprodutora e, claro, satisfação garantida.


Dou gargalhadas quando leio depoimentos de mulheres que admitem: “Olha, amor vale muito para mim, mas que o tamanho do pinto faz uma diferença danada, isso faz”. É um tipo de vingança instigar ainda mais esse assombro àqueles que desde sempre se especializaram em criar amarras somente (ou “principalmente”) para as mulheres.


Sentindo vontade, amigas: peitos guerreiros pra fora!


Que se danem os hipócritas!


Firmes, já meio caídos, grandes, pequenos, murchos, tatuados, espetados por enfeites, siliconados, machucados, já retirados por tumor, todos são belos!


O tal “pecado” só existe na cabeça, não nos corpos. “Inferno” é só um bom negócio, uma ideia de castigo que dá muito lucro e poder aos que pregam o medo do diabo, da condenação ao fogo eterno e blá-blá-blá para que isso facilite e valorize o “comércio da salvação” praticado por muitas religiões que são caça-níqueis.


Bem mais evoluídos nesse sentido, os outros animais não caíram nessa armadilha que um espertalhão inventou bem lá atrás, desde aquela malfadada mordida que dizem que a Eva deu na maçã. Ali, não do pecado, mas deve ter sido a origem das “fake news”.





segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Saudade é saber que não tem mais volta





Nesse novo trabalho, com desabafos de mulheres que fui conhecendo ao longo da vida (cresci no salão de beleza da minha mãe), tento captar as vozes (muitas em primeira pessoa) de pessoas que viveram sem medo de viver. Não é fácil. Sou homem, e estar ali, como mero “registrador” desse universo feminino e tão particular, não deixa de ser uma intervenção, um olho do outro lado da fechadura, de voyeur ou espião. Há as loucas, as apaixonadas, as viciadas, as putas, as que se anulam, as que enfrentam, as que vencem. Na que estou agora timidamente tentando ganhar a sua confiança, é de uma mãe, mulher intelectual, de casamento tido como perfeito, filhos gêmeos marido bem-sucedido, oficial do Exército, aquele que era o sonho de qualquer mulher do colégio e da faculdade. Um dos gêmeos, o que mais se destacava em tudo, numa bela noite de Ano Novo, já adolescente, depois de beijar todos na mesa, vai para o quarto dos pais e, logo depois, ouve-se um disparo de pistola automática. O mais belo dos gêmeos está morto, rosto destruído... e deixa de herança uma condenação a todos: “por que fez aquilo?” Aos poucos, todos se calam na casa. São estranhos sob um mesmo teto. A mãe mantém o quarto do filho morto intacto. Prepara ainda o bolo favorito dele e leva ao túmulo, com velas e tudo, para comemorar o aniversário. “Era um menino tão alegre, mas infeliz. Ninguém percebeu isso.”, diz a mãe, e se culpa por não ter se dado conta de nada. “A gente sempre vê o que quer ver deles, nunca como os nossos filhos são de verdade”, desabafa em determinado momento.
Penso que hoje, nas redes de solidão, muitos querem mostrar o que gostariam que os outros vissem, não o que são de fato. Um tipo de suicídio homeopático é matar a nossa verdadeira natureza.
Vejo isso muito na arte em geral: artista começa a morrer quando quer apenas o reconhecimento, o sucesso, a fama. O artista que está preso a essa ideia de sucesso, vai se matando a cada novo trabalho. Artista não é, nem pode ser escravo de nada. Artistas genuínos colecionam mais fracassos que sucessos. O tempo é que corrigirá isso mais adiante. Se teme e sofre com os fracassos, é um operário da arte, não um artista de verdade. O suicídio do filho amado é uma metáfora aos tempos atuais. Contudo, não sei se essa mãe muito ferida vai se abrir totalmente comigo. Vamos ver. De vez em quando ela me dita coisas. Depois passa meses calada.

"Oh, pedaço de mim / Oh, metade arrancada de mim / Leva o vulto teu / Que a saudade é o revés de um parto / A saudade é arrumar o quarto Do filho que já morreu” (“Pedaço de mim”, Chico Buarque)


Sugiro essa entrevista recente do Woody Allen. Tenho quase todos os livros dele. Do cinema, já não curto essa última fase. SETEMBRO (lançado em 1987), na minha opinião, ainda é imbatível.  

Aqui, o link para a matéria:


   

sexta-feira, 26 de julho de 2019

Escorpião - nova temporada da peça



Hoje à noite: início da nova temporada de ESCORPIÃO. Agora na Sala do Coro do imponente e importante Teatro Castro Alves (TCA). Bora lá ver mais essa produção do Grupo ATeliê voadOR.

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Compartilhando / NOVA TEMPORADA                                                          .............................................                                              EsCOrPIãO
Teatro/Filme
2ª temporada

Após o grande sucesso da primeira temporada, Escorpião reestreia em Salvador
26 de Julho a 18 de agosto
Sempre às 20h - De quinta a domingo
Na Sala do CORO do Teatro Castro Alves [estacionamento no local]                                                                             
*** Venha desvendar esse misterioso assassinato e vivenciar uma experiência visual, sensorial e sonora. 

+18 [cenas de nudez e violência]




Da obra homônima de Felipe Greco 
Encenação Marcus Lobo
Com: Duda Woyda e Gleison Richelle
Realização da Ateliê Voador Teatro com parceria do Coletivo SALVA


 




Esta produção conta com 35 artistas interdisciplinares do Cinema, Teatro, Música, Arquitetura, Moda dentre outros profissionais que se beneficiaram desse projeto direta ou indiretamente, responsáveis pela bilheteria - carreto - alimentação - comunicação. Respeito aos profissionais das “Artes do Espetáculo”. Vá ao TEATRO.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Subterrâneos do desejo




Bem no dia do meu aniversário, chega da gráfica a caixa-luva, na qual também irão "embalados" os títulos da minha trilogia. Digo "também", porque as três obras poderão ser adquiridas "separadamente" ou a "coleção completa", dentro dessa caixa-luva.
  
Em breve, publicarei trechos e outras informações sobre esse trabalho que fechará um ciclo da minha ficção.

Na preparação, revisão, edição e produção editorial dos três títulos da trilogia SUBTERRÂNEOS DO DESEJO, para reduzir custos e ter maior controle sobre o resultado, cuidei de todo o processo: edição, projeto gráfico, diagramação, escolha de papéis, acabamentos, tudo foi feito por mim. Será uma edição bem caprichada, com acabamento de primeira. Por ser algo muito pessoal, eu teria que me comprometer com tudo até o fim, colocar uma “marca”.

Como eu disse, é a despedida de uma fase no trabalho de um contador de histórias; precisava, então, ser encerrada da melhor forma possível.

Se é loucura publicar atualmente qualquer livro? É, sim. Mas não sou de deixar nada pela metade. O que começo, também finalizo. Bem ou não tão bem como deveria ser, finalizo.

Foram quase dois anos de trabalho, e contei com parceiros maravilhosos, como o artista Cláudio Duarte, que produziu os desenhos em preto e branco para as capas de CAÇADORES NOTURNOS e ESCORPIÃO... e permitiu que eu os colorisse. Para O COVEIRO, não: trabalhei a arte da capa a partir de uma imagem mais recente do meu próprio crânio. Sim, também pude contar novamente com outros colaboradores que me acompanham desde o início: Ana Maria Barbosa, revisora, e Marcia Stecca, na parte gráfica.

Chega, então, o momento de botar os filhos no mundo.

Reduzi todos os custos para que os exemplares fossem vendidos a um preço justo. Será uma edição limitada, com qualidade para colecionador. O autor cuidando de toda a edição, o que não é comum na área.

Aqui, um aviso importante: as narrativas são um salto para dentro e, como diz o título da trilogia, no mais profundo do desejo sexual, sem fazer concessões (o que pode causar espanto e até escândalo). É uma literatura mais pesada, densa e tensa (ou texto marginal, como alguns costumam classificar). De modo que eu não gostaria de enganar os que me acompanham, admiram e curtem as publicações nas minhas páginas nas redes sociais e blogue. É uma obra dura, para mexer com aquilo que muitas vezes ocultamos de nós mesmos. Como declarei na apresentação de outro livro (RELICÁRIO, lançado pela GLS/Summus em 2009), escrevi essa trilogia “para mergulhar nos meus subterrâneos e arejar um pouco o meu ‘bau freudiano’ de totens e tabus”.

Uma catarse? Sim, pode ser para alguns. Para outros, um soco no estômago, uma provocação.

Recado dado.

Até mais...

sábado, 11 de maio de 2019

Subterrâneos do desejo



Hoje, levar ao palco um texto underground, como ESCORPIÃO, é um ato de coragem. 

Estive em Salvador apenas uma vez (e rapidamente; eu era passageiro de um navio, desci apenas para visitar o Pelourinho e o Mercado Modelo). Embora eu saiba pouca coisa sobre a montagem, é uma honra ver um texto meu, que teve a primeira versão concluída em 2010 em Niterói (RJ), receber agora, nove anos depois, uma espécie de “batismo” na Terra de Todos os Santos e em um teatro com uma história de resistência tão linda e importante.

O Teatro Vila Velha (www.teatrovilavelha.com.br) foi inaugurado em julho de 1964 (três anos antes do meu nascimento). A primeira peça apresentada foi ELES NÃO USAM BLACK-TIE, também primeira obra teatral escrita por Gianfrancesco Guarnieri (em 1958). Começava ali um tempo complicado para o nosso país, uma história de ditadura ainda bastante nebulosa. 

Se vamos enfrentar problemas com os hipócritas e moralistas de plantão? Não sei, pode ser que sim. Tomara que não; esse tipo de "confronto" já deu o que tinha que dar.  

Farei o possível para assistir à montagem, mas isso não depende só da minha vontade. 

Torço para que seja um trabalho dramaticamente impactante e bom para todos os envolvidos. 

Da trilogia SUBTERRÂNEOS DO DESEJO, que será lançada em breve e da qual ESCORPIÃO é uma das obras (junto com CAÇADORES NOTURNOS e O COVEIRO), começaremos a divulgar o material aos poucos nas redes sociais.

Vale lembrar que sou muito grato à antiga Funarte e ao valente (e importante!) Grupo Diversidade Niterói (GDN). Sem o Prêmio de Interações Estéticas e sem o acolhimento do pessoal do GDN, o texto seria apenas um esboço. Uma vontade. Não vingaria.

Avante, Companhia Ateliê Voador! 

Evoé!

Axé!

sábado, 13 de abril de 2019

A mulher do quindim




Já devo ter contado essa história, mas vamos lá... 

No ônibus, uma idosa muito simples disse para a amiga que tinha comido um quindim. 

“Um quindim!”, comemorou. “Um desses bem grandes que a gente só vê em propaganda!”

Havia comido com vontade e se lambuzado toda naquele desejo saciado. Fazia tempo que queria devorar o doce, mas não tinha condições de comprar. Estava radiante por ter cometido sua extravagância gastronômica.   

Encantado com aquilo, quase passei do meu ponto. 

Eu podia saltar e comprar um quindim para tentar repetir a experiência fabulosa que ela viveu. Naquele momento, por ser uma fase de vacas gordas (algo cada vez mais raro na vida dos ficcionistas), eu poderia comprar dois, três, uma caixa de quindins ou devorar um quindão inteiro... mas seria inútil. 

Ainda vou encontrar e me dar por satisfeito com o meu “quindim”. 

Que tapa na cara a tiazinha me deu! Já vivi mais de meio século, pode ser que eu ainda tenha tempo de encontrar um por aí, tão maravilhoso quanto o dela.

Bom final de semana!

Obs.: recebo críticas a todo instante por me recusar a dirigir automóveis. Sendo um cara solitário desde sempre, pra que vou me isolar mais ainda em uma lata ambulante, se são essas pessoas anônimas que me empolgam mais que tudo? Pode ser que eu coloque essa “mulher do quindim mágico” numa história. Um dia, talvez.


quarta-feira, 13 de março de 2019

Tá ruim? Calma; você ainda não viu nada!





Sou do tempo da Varig, quando serviam lanches, refeições e até vinho de qualidade nos voos (e para todas as classes). 
Neste último que fiz para a Bahia, nem amendoim com guaraná serviram aos passageiros. Lá pelas tantas, passou um carrinho oferecendo lanches, refeições etc., mas pagos. Diziam no sistema de som: 
“Mercado Latam para melhor servi-lo”. 
Ah, para! 
Que "diacho" é isso? 
Os funcionários ofereciam aquilo intimidados. Só faltou gritarem: 
“Eu podia estar roubando, matando, pedindo esmola... mas não, estou aqui, vendendo essas gororobas para enriquecer ainda mais a companhia, que já cobra até para carregar as malas de vocês, otários!”
Pois é... 
Aliás, por falar nisso... os exaltados da classe média, que detestavam encontrar com pobres em avião, daqui a pouco ficarão ainda mais enfurecidos por terem que dividir o banco do ônibus, da lotação ou da garupa da moto-táxi.
E vamos em frente, porque, se não formos, nos empurrarão ladeira abaixo. A esculhambação é geral no país da chacota e da pilantragem. Ah, sim... também da milícia empoderada!
Vai um cafezinho aí, (e)leitor?

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Guerreiros de araque







Com os "defensores" de causas nobres e de grande estardalhaço, tenho algumas ressalvas. Muitas vezes, há os que defendem coisas maravilhosas à distância, mas desaparecem na hora de enfrentar uma questão importante local, como, por exemplo, um problema na rua, na casa ou no condomínio onde moram, um buraco na esquina, o farol que precisa ser colocado para evitar acidentes, uma criança que chora além do normal, um idoso que vive recluso, uma mulher que está sendo maltratada, um homossexual etc.

Ora, ser revolucionário de fachada, para mim, é “filhadaputagem”. Desculpem, mas é o que acho (e vejo muito disso por aí, infelizmente). Quem está disposto a brigar para melhorar o que de fato está errado tem que ter disponibilidade e coragem para causas de todos os tamanhos e tipos.

Há os guerreiros genuínos, claro. Porém o que mais se encontra é aquele que, para se sentir melhor do que realmente é, finge ser valente, “humano” e solidário com temas “midiáticos”. Agora, para assuntos mais próximos e também urgentes, nunca estão disponíveis, fogem, dão desculpas esfarrapadas, entram em pânico e se borram dos pés à cabeça.

Por isso, prefiro os ruins sinceros. Dos falsos bonzinhos (que se reproduzem pela internet numa velocidade espantosa), quero distância total. Já acreditei em alguns, não cairei mais nessa.

E antes que comecem a se manifestar os irônicos de plantão: não, não sou um bonzinho fajuto, mas também não sou um ruim hipócrita. Um exemplo de bondade, nunca fui, também nunca fingi ou quis ser santo. Mau? Cruel? Sim, de vez em quando, mas só com quem me provoca.

Fica o aviso!

domingo, 20 de janeiro de 2019

Glauber via longe






Eu gostaria de encontrar uma definição mais clara sobre “gente de bem”. Principalmente, depois das novas matérias sobre pessoas que se consideravam (ou ainda se consideram) “de bem” estarem agora envolvidas em feminicídios, outras agressões contra mulheres, negros, nordestinos, gays, crianças e idosos, também em casos de roubos, desvio de dinheiro público, pedofilia e todo tipo de barbaridade que elas próprias “condenavam” nas redes sociais, além de ajudarem a propagar notícias intencionalmente distorcidas sobre identidade de gênero, educação sexual nas escolas, feminismo, direitos humanos, cotas nas universidades etc. 

O cúmulo dessa ironia perversa é que os nazistas e os fascistas também se consideravam “gente de bem”. E até mais: “raça superior”. Os inquisidores: homens de Deus. Os césares mais sanguinários: divindades. 


Penso que se deva, antes da liberação das armas, definir muito bem o conceito de quem é “gente de bem” e quem é “criminoso disfarçado de santo”.


Será que a Polícia Federal terá condições de fazer sozinha essa triagem de quem é de “Deus e [quem é do] diabo na terra do sol”?



quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Sem mira, mas com lubrificante







Vamos ver agora como ficarão os bate-bocas no trânsito ou nas saídas dos estádios e das baladas (sem falar nas brigas domésticas, que já são violentas). O Estado acaba de assinar a "confissão" de que não tem a menor competência (nem vontade) de desarmar os bandidos. Daí, por pressão da indústria do armamento (cujo lucro é maior ou tão fabuloso quanto o do narcotráfico e do jogo - talvez os da fé e da prostituição estejam bem à frente nesta lista, mas...), libera o "salve-se quem puder".

Enfim, uma vez que será liberado o uso/porte de armas e como bandido está mais treinado no manuseio disso que para eles é instrumento de "trabalho" desde muito cedo, sugiro que os interessados comprem uma, mas arranquem logo a mira e tenham sempre lubrificante por perto; vai doer menos quando eles lhe enfiarem o revólver no...

Calma! Logo vão entender como a frase termina.



quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Dos achados e dos perdidos






Eu estava próximo ao Cemitério da Paz, aqui no Morumbi, quando duas senhoras, cheias de boas intenções, me abordaram de supetão:

“Jesus te ama, filho!”

No melhor do melhor de mim, devolvi a delicadeza:

“É? Que bom...”

Contentes com aquele meu espasmo de simpatia, elas se animaram e, revistas da religião delas em punho e versículos recitados com fervor, tentaram me convidar para um encontro de jovens:

“Tenho 51 anos...”, avisei.

“Mas é tão moço!”, uma delas disse admirada.

“Só de cara”, rebati.

A outra:

“Sou dez anos mais nova, e olhe só pra mim.”

Eu (não deveria ter dito, mas escapou):

“Muita igreja, talvez.”

Elas se entreolharam, riram contrariadas e, retomando a postura de recrutadoras de almas perdidas, ainda tentaram dar a última cartada:

“Temos que segurar na mão de Jesus, só o Cristo pode nos levar para o paraíso. Sabia que lá, no paraíso, vamos reencontrar todos os nossos amigos e parentes queridos?”

“Então é melhor eu ir para o inferno...”

“Credo!”, gritou a mais alta. 

“Não diga isso, filho!”, emendou a outra.

Por sorte, o sinal já estava fechando para os carros e abrindo para os pedestres. Aproveitei para finalizar:

“Já tô acostumado com o inferno e nesse paraíso aí não vai ter muita gente que conheci, não.”

Cruzei a rua. As duas mulheres ficaram do outro lado, olhando pra mim e cochichando. Evito, faço de tudo para fugir de situações desse tipo. Juro que não sou eu que corro atrás dessas histórias, elas é que me perseguem a todo instante pelas ruas.