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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Depois do depois...



“Da minha cidade natal, saí cedo, quase menino. Demorei muito, muito tempo para voltar. Quando retornei, percebi que casas e pessoas da minha história já não existiam mais. É difícil enfrentar isso; vai crescendo um vazio por dentro, a vida já não tem o mesmo sentido de antes. Revisitar um lugar, mas sem poder encontrar o que ainda está muito bem guardado na nossa memória, é devastador. Melhor nem pôr novamente os pés lá, naquele passado distante, deixar tudo aquilo apenas na lembrança. Fazer esse caminho de volta pode ser muito doloroso para alguns. A verdade é que muitas vezes vamos para longe, e cada vez mais longe, para depois, quando já passou tempo demais, descobrir que o melhor caminho era o de volta para casa. Foi o que aconteceu comigo quando resolvi visitar o casarão em que eu havia passado a infância e quase toda a minha adolescência. Nas redondezas, comecei a perguntar pelos amigos e vizinhos daquela época. A casa agora era um edifício de três andares, havia uma grande loja embaixo. Das pessoas, ninguém sabia. Nem de mim. Eu era apenas um estranho perguntando a estranhos o paradeiro de outros estranhos. Acho que saudade é isso: querer rebobinar os rolos de um filme corroído e mudo de um tempo que não existe mais.” 

(Trecho de “Verão sem sol”.
© F.G.)

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