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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O que foi, nunca mais será

Para explicar meu gosto por narrativas de ficção, costumo dizer que, em vez de mamadeira... quando nasci... ganhei um livro. Ou seja: mesmo antes de ser alfabetizado, eu já tinha verdadeiro fascínio por "histórias inventadas". 
   Meu pai foi projecionista por muitos anos, antes de se tornar relojoeiro e se aposentar como técnico em eletrônica. Assim, depois das histórias que “se escondiam” nos livros, passei a me encantar com as que “moravam” nas salas escuras dos cinemas. Como eu vivia em uma cidade do interior, as cópias dos filmes costumavam chegar lá com certo atraso – e, claro, bem danificadas. Por ser muito pequeno, eu não conseguia entender como “as pessoas” dos filmes não se molhavam com “tanta chuva”. Chovia sempre. Não parava nunca de chover. Mesmo com sol forte, era aquela chuvarada sem fim.
   — Se tem sol, se os cabelos continuam secos e nem mesmo o cigarro deles apaga... Que diabo de chuva é essa, pai, que não para nunca de cair nos filmes?
   — Não é chuva, filho, é risco.
   — E o que é risco?
   — Um tipo de chuva que não molha — disse meu velho, percebendo que seria inútil tentar me explicar o que, bem no fundo, eu não queria entender.
   E foi assim que essa mania de gostar de contar histórias grudou em mim, não me largou mais. Meu pai é o grande culpado! E Cinema Paradiso, dirigido por Giuseppe Tornatore no final da década de 1980, é quase a história da minha infância. Devo ter assistido mais de vinte vezes. Cinco, em um único dia, no saudoso Cine Arouche. Chorei muito na sala escura, sozinho. De saudade do meu velho. Também daquele menino sonhador e ingênuo que... em algum trecho da minha própria história (aliás, bem menos interessante que as dos filmes e livros)... eu tinha deixado de ser.

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