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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Arte é coisa de vagabundo





Já enfrentei e assumi muitas coisas sem ter grandes transtornos, apesar de causar escândalo para alguns e inveja (?) para outros. No entanto, por incrível que pareça, demorei muito para me assumir como um criador (ou artista, tanto faz), talvez por causa de tudo que ouvi de negativo sobre essa atividade desde pequeno. E, ultimamente, tenho escutado e lido mais agressões contra esse meu legado (ou profissão, ainda que muitos digam que é "coisa de vagabundo"). 

Por coincidência, indo ontem ver o Paulo Gustavo no Tom Brasil, com o seu emblemático espetáculo MINHA MÃE É UMA PEÇA... casa lotada, três mil pessoas, 16 anos em cartaz e viajando pelo país... Bastava ele aparecer em cena, começavam os aplausos, os risos... Todo mundo feliz. O ator com uma forte gripe, tossia de vez em quando, mas também estava feliz e grato por tudo aquilo. No final, como ela estava nos bastidores, o artista chamou a sua mãe para cantarem juntos uma música de encerramento da apresentação. Lá estava a famosa mãe do Paulo Gustavo, afinadíssima, ajudando o filho a cantar, já que ele, por estar resfriado, não conseguia alcançar algumas notas. Amigos queridos nos deram de presente os ingressos e foram conosco. Um final de domingo para gargalhar e também, no meu caso, pensar mais um pouco sobre esse atual "levante" contra os artistas. Dia desses, li uma postagem, dessas com frases de efeito que vão sendo compartilhadas mais por compulsão do que por passarem/representarem uma ideia com a qual os "repassadores", de fato, se identifiquem ou concordem. Nela, era possível ler algo assim: "precisamos de engenheiros, professores, médicos etc., mas nunca de artistas".        

Pois bem, para quem acredita que arte é absolutamente dispensável, que se livre dela, ora! É "simples". Rasgue livros, desligue a televisão, tire os quadros das paredes, as estampas dos móveis e das roupas, não vá mais ao cabeleireiro fazer aquele corte da moda, deixe de ver filmes, também apague os afrescos das igrejas, arranque as imagens dos altares e, claro, pare de cantar hinos para louvar o seu deus e cantigas para ninar os seus filhos, netos... Também não use mais joias, nada disso que vem dos "famigerados e dispensáveis" artistas. Enfim, elimine a arte (seja ela qual for) e veja como ficará a sua vida. 

Mesmo em estado selvagem, animais se enfeitam ou produzem ninhos espetaculares, também emitem sons e fazem belas danças para o acasalamento. Arte é uma forma de transcender, sair do lugar-comum, enfrentar a morte, agradecer por estar vivo, demonstrar essa gratidão em forma de criações que vão ficar por aí como herança para os que virão. Por mais que tenha evoluído, arte ainda tem o mesmo significado (e importância) que os desenhos deixados nas cavernas: é um vestígio, sinal para futuros arqueólogos (ou exploradores vindos de outros planetas, se aqui já não existir mais vida humana). Sim, para esses "extraterrestres" é bem provável que a arte deixada tenha mais valor "científico" que todo o resto, por não ter "verdades" tão inconstantes quanto a engenharia, as escolas, a medicina etc.   

Agora, se você não gosta, tudo bem. Cada um que viva com o que lhe basta. Mas não venha aqui, ler, curtir e se fartar gratuitamente com os meus textos... e depois sair por aí, arrotando sua ira contra mim e os meus parceiros de estiva. 

Por favor, mais respeito!

Goste ou não, muitos de nós deixarão contribuições para a eternidade. E você, vai deixar o quê? Apenas rancor, recalque e ódio? Quem deixa esse tipo de “obra” para a posteridade são os tiranos. 

Queira ou não, tudo é arte. Só não vê e sente isso quem não quer (ou não pode). Se grande ou menor arte, isso é o de menos para o tempo. Afinal, um brinco de osso deixado por civilizações pré-históricas tem maior ou menor importância que uma partitura de Mozart? 

Pensemos. 




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