Total de visualizações de página

terça-feira, 10 de junho de 2014

Divã no fascisbook 2


Não, doutor, não sou inseguro, mas exigente. Isso, às vezes (ou sempre), é um fardo pesado (para os outros e também para mim). Veja só: quando eu tinha 10 ou 11 anos, minha mãe desistiu de me dar presentes de Natal, aniversário, o que fosse. Não que ela tivesse um gosto, digamos, "muito particular" para escolher os presentes para o caçula da casa, mas, infelizmente, não dava uma dentro, nunca. Daí, achou melhor economizar, e passei a receber dinheiro em vez de presentes. Na verdade, acho que ela queria mesmo era desistir de ser minha mãe, porém decidiu me dar dinheiro. Afinal, já era um pouquinho tarde para me abortar, né? 
Mais adiante, apenas para dar um exemplo desta minha obstinação pelo melhor resultado (e a querida amiga Adriana Chagas testemunhou isso), quando ainda era preciso tirar e levar fotos 3x4 para a carteira de identidade, cheguei a ir a 10 fotógrafos diferentes (em São Paulo e Santos) para poder escolher a foto menos “assustadora”. 
Imagine, então, o "parto a fórceps" que costuma acontecer quando estou escrevendo algo meu... Pois é, a produção do roteiro e dos quadrinhos de Dom Casmurro levou seis anos... E o romance que escrevo agora já recebeu tantas "marteladas" (quatro anos de carpintaria de texto), que já nem sei mais se o original sobreviverá por muito tempo. Bom, se não sobreviver, é porque já nasceu meio morto, certo? E "la nave va"... 
Não, doutor, não me olhe assim. Não, não é que eu não goste do jeito que o senhor me olha... Mas a sua cara, talvez o senhor pudesse dar um jeito de melhorar o corte de cabelo, pôr um aparelho nos dentes, mudar de óculos, de corpo, de encarnação... Enfim, quanto lhe devo? Vou procurar outro psiquiatra; o senhor, lamentavelmente, não serve para escutar as minhas memórias. Puxa vida, tá ficando difícil de ser louco, viu?


Nenhum comentário:

Postar um comentário